Noite de Natal na Aldeia
Dezembro despedia-se.
O sino tangeu as Trindades e a noite veio, a tiritar de frio, trazendo pela mão a lua que espargiu pela a aldeia a luminosidade do seu sorriso tímido, até então obscurecido pelo esplendor do sol.
Os diamantes, encastoados no espaço etéreo, começaram a rutilar.
No lajedo puído das calçadas sentia-se o som lânguido dos tamancos dos cavadores de regresso a casa.
O barulho do silêncio confundia-se com a lassidão da Natureza em hibernação.
A luz das candeias bruxuleava nos peitoris das janelas e os pirilampos, de onde em onde, tremeluziam.
Os arroios cantarolavam pelas encostas.
Ao longe ouvia-se o piar lúgubre da coruja nos ciprestes, e o gemer das horas no relógio do campanário da ermida.
Os cães latiam ao perceberem o mínimo ruído ou bulício enquanto a raposa, sorrateiramente, deambulava pelas capoeiras escutando-se, de quando em vez, o alvoroço das galinhas ameaçadas.
O Doiro, onde as desnudadas videiras se miravam cheias pundonor, corria sonolentamente no fundo do vale reflectindo apáticos socalcos em que o viço e a jovialidade há muito haviam fenecido.
O murmúrio dos potes, a cozinharem a suculenta ceia de Natal, misturava-se com a algazarra dos mais pequenos a jogarem ao rapa, para serem obsequiados com alguns confeitos ou pinhões que os ajudariam a saciar a sua gulodice, particularmente exacerbada naquela noite.
Ao redor da lareira a crepitar, congregava-se toda a família para comemorar mais um Nascimento de Jesus Cristo, ocorrido há quase dois mil ano, numa humílima gruta da longínqua cidade de Belém, apenas com uma manjedoura para o acolher, o desvelo, o carinho de Sua Mãe Maria Santíssima e de São José para o aconchegarem.
Que belo exemplo Ele nos deu!
Se atentássemos bem na magnitude do Seu Nascimento e da Sua efémera passagem pela terra, quão diferente poderia ser a nossa postura perante os outros e perante a vida?!
Se conseguíssemos, em cada gesto e atitude do nosso quotidiano, patentear sempre o espírito de amizade, partilha, doação, fraternidade, entreajuda, complacência e contemporização que nos alaga a alma na quadra natalícia, que coisas maravilhosas operariam á nossa volta!
Mas o mundo egocêntrico em que vivemos às vezes entorpece-nos os membros, e obnubila a nossa consciência, tornando-nos incapazes de voar como a águia e ter rasgados gestos de liberalidade para com o outro, os outros, principalmente aqueles para quem a vida foi e é menos auspiciosa.
E era nesta envolvência de paz interior, de traquinice e de amarga saudade dos Natais de antanho, em que a família ainda não havia sido dilacerada com a partida dos entes mais queridos, que o pitéu era finalmente colocado na mesa para ser degustado.
A aldeia adormecia já tarde embalada por esta melopeia balsâmica, agasalhada com um manto mirífico que parecia envolver toda a Terra, e só acordava, quando a lua começava a bocejar.
O sino tangeu as Trindades e a noite veio, a tiritar de frio, trazendo pela mão a lua que espargiu pela a aldeia a luminosidade do seu sorriso tímido, até então obscurecido pelo esplendor do sol.
Os diamantes, encastoados no espaço etéreo, começaram a rutilar.
No lajedo puído das calçadas sentia-se o som lânguido dos tamancos dos cavadores de regresso a casa.
O barulho do silêncio confundia-se com a lassidão da Natureza em hibernação.
A luz das candeias bruxuleava nos peitoris das janelas e os pirilampos, de onde em onde, tremeluziam.
Os arroios cantarolavam pelas encostas.
Ao longe ouvia-se o piar lúgubre da coruja nos ciprestes, e o gemer das horas no relógio do campanário da ermida.
Os cães latiam ao perceberem o mínimo ruído ou bulício enquanto a raposa, sorrateiramente, deambulava pelas capoeiras escutando-se, de quando em vez, o alvoroço das galinhas ameaçadas.
O Doiro, onde as desnudadas videiras se miravam cheias pundonor, corria sonolentamente no fundo do vale reflectindo apáticos socalcos em que o viço e a jovialidade há muito haviam fenecido.
O murmúrio dos potes, a cozinharem a suculenta ceia de Natal, misturava-se com a algazarra dos mais pequenos a jogarem ao rapa, para serem obsequiados com alguns confeitos ou pinhões que os ajudariam a saciar a sua gulodice, particularmente exacerbada naquela noite.
Ao redor da lareira a crepitar, congregava-se toda a família para comemorar mais um Nascimento de Jesus Cristo, ocorrido há quase dois mil ano, numa humílima gruta da longínqua cidade de Belém, apenas com uma manjedoura para o acolher, o desvelo, o carinho de Sua Mãe Maria Santíssima e de São José para o aconchegarem.
Que belo exemplo Ele nos deu!
Se atentássemos bem na magnitude do Seu Nascimento e da Sua efémera passagem pela terra, quão diferente poderia ser a nossa postura perante os outros e perante a vida?!
Se conseguíssemos, em cada gesto e atitude do nosso quotidiano, patentear sempre o espírito de amizade, partilha, doação, fraternidade, entreajuda, complacência e contemporização que nos alaga a alma na quadra natalícia, que coisas maravilhosas operariam á nossa volta!
Mas o mundo egocêntrico em que vivemos às vezes entorpece-nos os membros, e obnubila a nossa consciência, tornando-nos incapazes de voar como a águia e ter rasgados gestos de liberalidade para com o outro, os outros, principalmente aqueles para quem a vida foi e é menos auspiciosa.
E era nesta envolvência de paz interior, de traquinice e de amarga saudade dos Natais de antanho, em que a família ainda não havia sido dilacerada com a partida dos entes mais queridos, que o pitéu era finalmente colocado na mesa para ser degustado.
A aldeia adormecia já tarde embalada por esta melopeia balsâmica, agasalhada com um manto mirífico que parecia envolver toda a Terra, e só acordava, quando a lua começava a bocejar.
Maria
6 comentários:
Deixamos os nossos Votos, da Aldeia mais Verde de Portugal, de BOAS FESTAS e FELIZ NATAL, para toda a comunidade que se revê e se encontra neste espaço de informação e partilha.
Saudações com amizade.
At Ento
Parabéns pelo artigo.
Miguel
Mais uma vez, PARABÉNS pelo texto de "Maria".
Aproveito para enviar a todos, votos de feliz NATAL e que o novo ano de 2009 a todos traga esperança de um Portugal melhor.
M. Lameiras
Gostei muito do têxto do anónimo Maria,ele veio reavivar-me a memória dos Natais de antigamente.
Lembro-me bem de também com os meus primos ,que era como se fossemos irmãos na casa do meu avô MANUEL jogar-mos ao rapa a pinhões e também às cartas.Era na casa do meu avô que a familia se juntava na noite de NATAL,PASSAGEM DE ANO E NOITE DE REIS.Era uma alegria estar-mos todos juntos.
Na noite de consoada à meia noite acendia-se a fogueira mesmo em frente à NOSSA IGREJA aonde os rapazes os homens e também algumas mulheres estas em menor número a rodeavam degustando umas alheiras e tudo o que podessem levar.
Esta tradição ainda hoje se mantem e ainda bem.
Na parte religiosa tenho pena de uma tradição que se perdeu e que foi INSTITUIDA pelo nosso Pároco de muitos anos(SENHOR PADRE JOÃO ALMEIDA A QUEM PRESTO UMA MERECIDA HOMENAGEM EMBORA A TÍTULO PÓSTUMO) FOI A PASTORADA.Todas as crianças na missa de Natal iam vestidas de pastores levando cada um o seu presente ao MENINO JESUS.
No final da MISSA as ofertas eram leiloadas pelo maior preço,quem fazia o leilão era o Senhor Ernesto de Carvalho que felizmente
ainda se encontra entre nós e as receitas revertiam a favor da IGREJA. deixo aqui um apelo:este NATAL já passou mas para o ano façam a Pastorada,é certo que já há poucas crianças mas porque não mobilizar também os jovens como fizeram este ano com o PRESÉPIO? E QUE POR SINAL ESTAVA MUITO BONITO,ESTÁ DE PARABÉNS A COMISSÃO DE S.PEDRO.
ASSIM ERA O NATAL NA ALDEIA DE POMBAL.
DESEJO A TODOS CONTINUAÇÃO DE BOAS-FESTAS.
UMA POMBALENSE.
O Natal já passou,estamos a aguardar o final do ano 2008.
Recebem-se muitos votos de continuação de BOAS FESTAS E DE UM BOM ANO.Estas palavras são muito bonitas ,só é pena sejam tão efemeras,pois passada a quadra festiva as pessoas esquecem-se que Natal pode ser quando o homem quiser,havendo partilha de amor,caridade principalmente para aqueles mais desfavorecidos,para com os idosos que não têm quem os queira e os deixam viver na solidão, para com as crianças,para que não as abandonem ou maltratem.
Sejamos unidos e que ninguém deixe de estender ao próximo.
Adorei o texto! Li, reli, saboreei... e achei-o transbordante de beleza e de riqueza, quer a nível da mensagem, quer a nível literário. Tem algo de queirosiano, sobretudo pela abundância e escolha criteriosa dos adjectivos e a carga expressiva dos verbos e dos nomes; mas também tem uns laivos de Torga pela atenção e pelo amor que dedica à Natureza simples e selvagem e às tradições das pessoas genuínas das nossas terras. Parabéns! Espero poder ter o prazer e o privilégio de continuar a ler os seus textos, Maria!
Lídia Valadares
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