Petição pela classificação da linha arquivada desespera utentes que não têm alternativa ao comboio.
"Porque é que nos tiraram o comboio?" A pergunta é de José Celestino, 80 anos, residente em Vilarinho, concelho de Vila Flor. Mas reflecte o estado de desânimo de todos os que olham a Linha do Tua, em Trás-os-Montes, já amputada num troço e prestes a ser submersa noutro por uma barragem.
"Sem o comboio estamos desgraçados, a nossa aldeia tem 60 habitantes todos já velhos a necessitar de assistência médica. A Refer dá-nos a possibilidade de ir de táxi, mas temos de partir às sete da manhã e regressar depois das sete da noite. O que fico a fazer em Mirandela? Assim ou não vamos ao médico ou desembolsamos quinze euros para um táxi nos vir trazer a casa", diz José Celestino.
Ao que o DN apurou, a Refer paga aos quatro taxistas que efectuam o transporte de utentes entre as nove estações desactivadas e Mirandela cerca de onze mil euros por mês, 132 mil euros por ano. Daniel Conde, líder do Movimento Cívico pela Linha do Tua alega: "preferem o investimento rodoviário ao ferroviário..." (ver entrevista da última página).
Daniel, José e muitos transmontanos viram esta semana esgotar-se uma das derradeiras esperanças de preservação da centenária linha ferroviária, a petição pela classificação da Linha do Tua como património nacional. Subscrita por milhares de pessoas e entregue em Março ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), deu lugar a um processo que foi arquivado.
José Silvano, presidente da Câmara de Mirandela, disse ao DN que o arquivamento desta petição põe fim às suas esperanças de evitar a construção da barragem. "Irei lutar com todas as minhas forças para que o restante troço entre Brunheda e Mirandela se mantenha com a reabertura das estações entretanto encerradas."
As duas velhas automotoras que restam - das quatro que antes rolavam sobre carris, uma caiu ao rio no acidente de Fevereiro de 2007 e a outra está inactiva há mais de um ano nas oficinas de Carvalhais - fazem o percurso entre Cachão e Mirandela. Têm a alegria perversa das cores dos graffiti mas deslizam tristes. Joaquim Cardoso, há mais de 50 anos atrás do café junto à estação do Cachão, diz que "os horários praticados pelos comboios não estão ajustados aos dos estudantes e pessoas que trabalham em Mirandela. Muitas vezes andam vazios porque as pessoas optam pelo autocarro".
Entre o Cachão e Brunheda a linha foi desactivada, não por culpa da barragem, que ali não chega, mas por opção da Refer. Naquele troço reina o silêncio. As estações estão em ruínas, as ervas tapam as travessas da via, os fios de cobre e postes das telecomunicações foram retirados.
O edifício da estação de Ribeirinha é ocupado por Abílio Augusto, com a mulher e seus dois filhos. Reformado da CP, em que trabalhou durante 42 anos na estação de Mirandela, mora ali há cerca de 37 anos, paga cinco cêntimos de renda, mas a manutenção da habitação tem de ser feita por si. "Sou pobre e tenho de aqui morar mas a casa não tem condições. E agora, com a suspensão dos comboios, estamos cada vez mais sós..." DN
"Porque é que nos tiraram o comboio?" A pergunta é de José Celestino, 80 anos, residente em Vilarinho, concelho de Vila Flor. Mas reflecte o estado de desânimo de todos os que olham a Linha do Tua, em Trás-os-Montes, já amputada num troço e prestes a ser submersa noutro por uma barragem.
"Sem o comboio estamos desgraçados, a nossa aldeia tem 60 habitantes todos já velhos a necessitar de assistência médica. A Refer dá-nos a possibilidade de ir de táxi, mas temos de partir às sete da manhã e regressar depois das sete da noite. O que fico a fazer em Mirandela? Assim ou não vamos ao médico ou desembolsamos quinze euros para um táxi nos vir trazer a casa", diz José Celestino.
Ao que o DN apurou, a Refer paga aos quatro taxistas que efectuam o transporte de utentes entre as nove estações desactivadas e Mirandela cerca de onze mil euros por mês, 132 mil euros por ano. Daniel Conde, líder do Movimento Cívico pela Linha do Tua alega: "preferem o investimento rodoviário ao ferroviário..." (ver entrevista da última página).
Daniel, José e muitos transmontanos viram esta semana esgotar-se uma das derradeiras esperanças de preservação da centenária linha ferroviária, a petição pela classificação da Linha do Tua como património nacional. Subscrita por milhares de pessoas e entregue em Março ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), deu lugar a um processo que foi arquivado.
José Silvano, presidente da Câmara de Mirandela, disse ao DN que o arquivamento desta petição põe fim às suas esperanças de evitar a construção da barragem. "Irei lutar com todas as minhas forças para que o restante troço entre Brunheda e Mirandela se mantenha com a reabertura das estações entretanto encerradas."
As duas velhas automotoras que restam - das quatro que antes rolavam sobre carris, uma caiu ao rio no acidente de Fevereiro de 2007 e a outra está inactiva há mais de um ano nas oficinas de Carvalhais - fazem o percurso entre Cachão e Mirandela. Têm a alegria perversa das cores dos graffiti mas deslizam tristes. Joaquim Cardoso, há mais de 50 anos atrás do café junto à estação do Cachão, diz que "os horários praticados pelos comboios não estão ajustados aos dos estudantes e pessoas que trabalham em Mirandela. Muitas vezes andam vazios porque as pessoas optam pelo autocarro".
Entre o Cachão e Brunheda a linha foi desactivada, não por culpa da barragem, que ali não chega, mas por opção da Refer. Naquele troço reina o silêncio. As estações estão em ruínas, as ervas tapam as travessas da via, os fios de cobre e postes das telecomunicações foram retirados.
O edifício da estação de Ribeirinha é ocupado por Abílio Augusto, com a mulher e seus dois filhos. Reformado da CP, em que trabalhou durante 42 anos na estação de Mirandela, mora ali há cerca de 37 anos, paga cinco cêntimos de renda, mas a manutenção da habitação tem de ser feita por si. "Sou pobre e tenho de aqui morar mas a casa não tem condições. E agora, com a suspensão dos comboios, estamos cada vez mais sós..." DN
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