sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Daqui e dali... Henrique Raposo

Ninguém confia em Sócrates

A principal causa para a subida dos juros da nossa dívida não é a agitação PS/PSD. A causa principal é uma coisa mais evidente: os credores não acreditam neste governo. Olhemos para os factos que comprovam a incompetência de Sócrates.

I. Nos últimos dias, uma coisa passou a ser a verdade suprema do pós-abstenção do PSD: a agitação PSD/PS é a única causa da subida dos juros da nossa dívida. Ora, esta agitação e a demora na obtenção de um acordo foram, com certeza, factores que provocaram desconfiança nos credores. Claro. Mas, atenção, este é um factor conjuntural e superficial. O problema de fundo, a questão estrutural é outra, a saber: a falta de credibilidade deste governo . Os credores não ligam muito à troca de palavras entre um deputado do PSD e o primeiro-ministro, mas ligam muito aos números. E os números, meus amigos, mostram uma gigantesca incompetência de Sócrates e Teixeira dos Santos:

- O OE2010 tem uma derrapagem de 1.8 mil milhões de euros. Teixeira dos Santos admitiu isto na semana passada. Por que razão os media portugueses não falam disto? Uma coisa é certa: durante os chá das cinco, os nossos credores falam muito sobre este assunto.

- A maquilhagem dos 2 mil milhões do fundo de pensões da PT. Isto pode servir para enganar Bruxelas, mas não serve para enganar os credores.

- O "lapso" dos 570 milhões e a errata dos 800 milhões. Estes dois episódios colocam tudo isto no campo do humor involuntário. E, piadas à parte, os credores começam a perceber uma coisa: os portugueses ainda não são gregos, mas têm contas públicas muito pouco transparentes.

- A relutância do governo em largar os TGVs, e um modelo económico caduco.
- A ausência de medidas para renovar nossa economia (exs.: flexibilizar a lei laboral, tal como fez a Espanha e tal como pediu o "euro grupo"; descida da taxa social única).

II. Ora, tendo em conta tudo isto, os nossos credores não acreditam neste governo, não acreditam que Teixeira dos Santos consiga cortar 5% no défice em apenas um ano. E têm razões de sobra para manter essa desconfiança. Os juros não descem por acção dos nossos desejos. Descem por acção dos nossos actos. Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

Newton e a credibilidade das cores

Para começo do que vou dizer, torna-se necessário relembrar que, depois das experiências de Newton, ficámos a saber que os corpos têm a cor dos raios que difundem ou refletem.
Assim, um corpo é amarelo se absorve todos os raios menos os amarelos; é vermelho se não absorve os raios vermelhos; azul, se a absorção dos raios azuis deixa de se realizar.
Compreende-se porquê: os nossos olhos, se não forem daltónicos, captam os raios que os corpos não absorvem e, portanto, refletem.
Convém ainda acrescentar uma coisa que já se deixa ver, e é que, se um corpo refletir duas ou mais cores, absorvendo as outras, a cor será composta pela mistura das cores difundidas.
Falta dizer que o branco é composto pelas sete cores – o vermelho, o alaranjado, o amarelo, o verde, o azul, o anilado e o roxo.
Por outro lado, a gente aprende na Física que um corpo que absorve todas as cores e não difunde nenhuma tem a cor preta. E, se fôramos rigorosos, devíamos considerar que o preto não é “cor”, porque preto é rigorosamente… a ausência da cor.

Vem muito a propósito adicionar aqui este problema colorido:
“Tenho sobre a mesa uvas brancas e pretas. Sendo que, verdadeiramente, as uvas brancas são… amarelas e as pretas… azuis”, quais são as “brancas”… e quais são as “pretas?”.

Será este o “problema” do nosso “celebrado OE2011”?
Será que, tal como as uvas, o OE tem duas (ou mais) cores?
Será que onde alguns veem branco, outros veem preto e vice-versa?
Será puro “daltonismo”… ou “política” na sua expressão mais baixa?

Será que os “mercados” veem tudo preto (sem qualquer laivo de branco) … ou veem tudo branco em “preto carregado”?

Obrigado, Newton! Quão esclarecedora (e oportuna) foi a tua descoberta!


Carlos Fiúza