Disse Herculano:
“A Pátria… é a oração ensinada a balbuciar por nossa mãe, a língua em que pela primeira vez ela nos disse: - meu filho!” (Lendas, II, 195).
Meditando nesta afirmação de Herculano, eu pergunto: Ainda seremos Portugueses se amanhã todas as mães de Portugal passarem a imitar aquelas que já hoje dizem aos filhos: “Meu bijou!”?
E será Portugal ainda português, quando as noivas da nossa Terra, imitando as apaixonadas estrangeiras, disserem, todas: “My darling!”?
Lamento profundamente ver-me obrigado por um sentimento de amor à minha Pátria, a de vez em quando sermonear amargamente contra os meus irmãos portugueses, desrespeitadores, indiferentes ou descrentes da nossa Moral, da nossa Honra, da nossa Cultura, símbolos reais da nossa independência.
Mas poder-se-á deturpar o indeclinável dever de reagir em defesa da Honra, da Vergonha, da Verdade?
Na nossa Terra (tão propícia a descobridores) descobriu-se de há tempos a esta parte um estribilho muito acaciano com que se procura desculpar a estragação da Moral.
O estribilho canta assim: “A Moral é um organismo em evolução.”
Com tais palavras, tão genialmente descobertas, se pretende matar os poucos pregadores da Moral em expressão.
A libertinagem não se desculpa com o progredir dos aspetos sociais; pede uma reação enérgica de quem preza os direitos da cultura de um Povo.
Paralelamente, a ignorância ou a anarquia que pretenda justificar a despersonalização idiomática, mediante a distinguível lembrança da “evolução”, deve ser combatida pela verdadeira noção científica do processo natural, que nada tem que ver com a estragação escuidada.
Vítimas inocentes bebem nos jornais os vícios da expressão, e mal sabem que se lhes instilam os defeitos com a leitura desprevenida.
Indiferentes, algo culpados, parecem dispostos a abdicar dos direitos da nossa consciência.
Desorientadores opiniáticos recorrem ao estratagema de atribuir à “evolução” e à descabida frase-feita de que o povo “é quem elabora a língua” a explicação e a manutenção dos vícios destruidores.
Mas é muito superficial a opinião falsa dos que recorrem à “evolução” para legitimar a estragação atual.
Não reparam em que os tempos agora são outros.
Há contactos mais profundos entre os povos; a interpenetração das culturas apresenta-se bem pronunciada; as comunicações, mais velozes, quase neutralizam fronteiras; os ares trazem vozes estranhas, que os nossos recetores espalham pela intimidade do lar.
Nesta hora e nas outras que hão de vir as modificações, todas as modificações, não se efetuarão com aquele moderado andar de muitos e muitos séculos, se a intercomunicação dos idiomas se desenvolver com o predomínio de duas ou três línguas universais.
Carlos Fiúza
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