domingo, 15 de maio de 2011

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

AS MESAS EM TORNO DA MESA,


A PARTIR DE TOLENTINO MENDONÇA



O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui

à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer
segredamos

mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo

in
Baldios, Assírio & Alvim


Vi e agarrei, no i. Para o sacerdote e biblista (ligando tudo, o poeta) José Tolentino Mendonça, a sua ponte com Deus está num poema de Cesariny: "Tu estás em mim como eu estive no berço./Como a árvore sob a sua crosta./Como o navio no fundo do mar." É tão bonito que até apetece re_


ligar-nos ao divino, se, nas palavras de Maurice Blanchot, "Já éramos amigos e não sabíamos."


Ouvi e agarrei, no ECCLESIA, da Antena 1. A importância da Mesa... O cristianismo, sendo a única religião, em que se pode comer de tudo com todos. E aí percebi, finalmente.


Este país precisa de mesas em torno da mesa. Alimentar-nos uns dos Outros (essa é a força da Última Ceia, da Eucaristia), para sair... da Noite.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro VAV: sabe que sempre o seu estilo me encanta e frustra: encanta porque tem uma maneira de dizer que seduz; frustra porque tenho a sensação de me não ser inteiramente acessível.
Sempre algo me escapa ,sempre acho que deveria dizer as coisas em termos mais chãos.
Também sei que este é o seu estilo e a sua imagem de marca, o seu ex-libris. E tem todo o direito a ele.
Por isso, não sei se compreendi o seu texto.
Será que tem(sempre teve?)uma maneira muito cristã de ver o mundo? Será que vê na comunhão(comunitarismo, altruísmo, fraternidade) cristã o ideal de vida?
Acha, no mínimo, que é fundamental , na vida, o encontro com os outros?
Acha mesmo que alguns, através do outro e com ele , podem chegar a Ele?
JLM

Carlos disse...

A “CEIA”

Metáfora - o tropo assim denominado (da palavra grega “metaphora”, que designa “translação”) funda-se, como é sabido, na relação de semelhança entre aquilo que naturalmente exprime determinado termo e o que passa a designar por comparação.

Assim, por exemplo, a alvura da neve pode servir de símbolo ou de imagem à brancura dos cabelos de um velho.

Ora, acontece que o uso da metáfora, parecendo que não, apresenta muitas dificuldades.

Já Quintiliano afirmava que as locuções metafóricas deviam obedecer a uma certa unidade, de modo que entre os vários componentes expressivos se mantivesse sempre a necessária harmonia.

Hoje, infelizmente, constitui um dos mais frequentes senões estilísticos a sensaboria e até a contradição que, se bem analisarmos, encerram certas metáforas.

Mas não o texto de Vitorino A. Ventura!

A maestria das suas imagens,

“… a importância da Mesa…”;
“… o comer de tudo com todos…”;
“… este país precisar de mesas em torno da Mesa…”,

é esclarecedoramente convincente!

O seu…
“alimentar uns dos outros… para sair da Noite…”
é, como dia Horácio,
“Mens divinior”…

- verdadeiramente “inspiração poética”!


Carlos Fiúza

P.S. Faço votos para que esta “Ceia” não seja a "ultima"!

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Carlos Fiúza,

dizendo que tais imagens me não pertencem, salvo a final (da Noite), mas ao padre Tolentino, secretário de Dom Manuel Clemente, na Comissão Episcopal para a Cultura, que tem um modo tão poético de dizer. E é isso que me toca: a sua Palavra. Como todas as Palavras que me tocam.

Pelo visto, não é o que acontece com João Lopes de Matos, o que me espanta, pois seguindo deterministica_

mente a neurociência, não deveria querer, por sabê-lo improvável, que me mudasse para chãos outros, mais chãos.

Mas vou responder-lhe assim: não sendo cristão, também sou, como, na China, budista seria, mesmo não sendo. São os ares, meu caro!

O que me alegra mais em Cristo é o facto de não moralizar, mas contar histórias. Agora,

a Noite, mas chamemos-lhe prosaicamente Crise (minimizando-a com um dos seus possíveis significados), força o Encontro, como as terras mais inférteis obrigaram as aldeias a serem comunitárias. A Noite é que nos escolhe, no seu ideal fraterno. Somos escolhidos, pois. Não escolhemos.

A Noite, mas chamemos-lhe agora Paixão/Morte, é que nos pode fazer chegar a Ele, se nisso temos fé, de estarmos mesmo a comer do seu pão e vinho, na Eucaristia. Por acaso, aí vou mais com os evangélicos, que apenas os pensam como símbolos... Mas isso já me vem do lado da «peste»: da Psicanálise.

Vitorino Almeida Ventura

Anónimo disse...

Confesso que não tenho qualquer esperança(nem verdadeiramente o desejo)que mude de estilo. Mas lá que me vejo aflito com ele,isso é vejo.Depois de o entender,gosto.Mas até lá...suo as estopinhas.
Se eu entendo o que diz,VAV é o que os rodearem forem.E dou-lhe razão:graças a Deus,aqui somos todos católicos(simbolicamente ou convictamente).
Mas que seja simbolicamente católico por a psicanálise a isso o levar -isso é que não entendo.
Mas que culpa tem VAV das minhas limitações?
JLM

Anónimo disse...

Pelo menos, valeu a pena o esforço...

Apenas me não interpretou bem quando diz que sou simbolicamente católico. Se reparar bem, o que eu disse foi que nessa parte sou mais evangélico, dado não ter fé de achar que, quando se recebe a hóstia, se está mesmo a tomar o corpo de Cristo, como crêem os católicos!

Ab.,

Vitorino Almeida Ventura