Por vezes, dá-me uma crise de pessimismo desesperado e apetece-me pensar que a diferença entre a democracia e a ditadura é sobretudo esta: em ditadura acontecem coisas que não deviam acontecer e ninguém sabe; em democracia acontecem as mesmíssimas coisas, mas fica-se a saber. Porque pelo menos ainda existe liberdade de Imprensa.
De resto, tanto num como no outro dos regimes havia/há escândalos, uns mais pequenos, outros maiores. Só que, enquanto «dantes» se falava em milhares, «agora» fala-se em milhões. Mas o mecanismo é igual: há hoje, como sempre houve, gente que beneficia de «bênçãos» e que tem «padrinhos», como disse um ex-administrador da PT referindo-se ao tal senhor dos 3,1 milhões.
Há grandes questões susceptíveis de fazer estremecer os alicerces do regime, mas vai sendo cada vez maior o número de coisas, aparentemente pequenas, que vão minando perigosamente o moral da nação. É o caso das remunerações escandalosas. É o caso que acaba de saber-se de vedetas da TV e das telenovelas que fizeram, num hospital público de Lisboa, operações a excesso de banhas na barriga ou falta de banhas nos seios - sem pagar um tostão.
E isto num país onde as listas de espera para intervenções cirúrgicas são aterradoras. Dir-se-á, como se disse, que tal «magnanimidade» não afectou as listas de espera e que as vedetas até prestaram um serviço à sociedade, dado que serviram de cobaias (de luxo…) a médicos que estão a treinar.
Mas são pequenos escândalos como esses que, às vezes mais do que os grandes escândalos, vão criando «sentimentos de revolta» nas pessoas, pela ideia de que «não há justiça igual para todos». E de quem são estas graves palavras? Do presidente da República…
Sérgio Andrade, JN
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