terça-feira, 14 de junho de 2011

Daqui e dali... Carlos Fiúza

O “psicanalista” e eu - Parte II


“… as tendências e a razão são realidades com peso semelhante” (JLM).

Há no Homem grande multiplicidade de tendências, mas todas elas derivam de um impulso vital ou vontade de viver, que na criança se manifesta apenas pelas tendências instintivas e aumenta consideravelmente no adulto à medida que se desenvolve o conhecimento do mundo, de si mesmo e dos bens ideais.

Assim, o adulto espiritualisa e intelectualiza as tendências instintivas, tornando-as voluntárias, adquirindo outras novas - as habituais.
Todas as tendências têm influência na formação do “eu”, como realidade consciente, alimentando-o e desenvolvendo-o.
No entanto, todas as tendências devem ser regradas e bem dirigidas; caso contrário, em vez de qualidades dignas da “pessoa”, tornam-se vícios nefastos (como aponta, e com razão, o meu amigo João Lopes de Matos).
Há quem afirme que a “pessoa” não é mais do um fruto da sociedade.
Não é essa a minha “visão”.
Para mim, cada PESSOA tem na sua própria natureza o que a caracteriza - a RAZÃO!
A sociedade pode, quando muito, contribuir para a sua formação e defesa.
Lembremo-nos que as tendências não são conscientes em si próprias, mas nas suas manifestações.
Por vezes, condições morais e conveniências sociais (como a educação) exigem que as regremos e dominemos para evitar os seus desmandos.
Para isto forma-se em nós uma espécie de “crítica” (como que uma censura) que “fiscaliza” a passagem das tendências do inconsciente para o consciente, para avaliar a sua “conveniência” ou “não conveniência”.
A este trabalho chamou Freud de “recalcamento” ou “ repressão”, ensinando-nos que a tendência contrariada produz um estado desagradável, que nos pode levar à cólera, à tristeza doentia e ao desespero.
Mas, as tendências assim reprimidas não desaparecem imediatamente… permanecem em nós à espera do momento oportuno para se satisfazerem.
É para evitar estes factos que recorremos à “sublimação”, desviando a tendência de um objeto para outro, transformando-a numa de ordem superior.

Todo o Homem é provido de psiquismo inferior (temperamento) e de psiquismo superior (caráter).
Toda a nossa vida psíquica obedece, assim, a estas duas forças que lhe dão uma uniformidade e uma constância tais que nos permitem determinar (com uma certa exatidão) o comportamento do Homem em face daquilo que o estimula.

Quando este binómio “falha”, podemos cair nas tendências exaltadas, ou seja, nas “paixões”, as quais se desenvolvem mais nuns indivíduos do que noutros, consoante certos fatores de ordem fisiológica, social e psicológica.

E é aqui que ocorre a “VONTADE” (ou a falta dela) … a paixão só se poderá desenvolver ou fortificar se o Homem não estiver na plenitude de si mesmo, isto é, se não tiver uma vontade forte.
E quando essa vontade falta… surgem os “desvios”, apontados por JLM.
Só que… quer a cleptomania quer a psicopatia (como eu “entendo” o Homem) são atos involuntários da sua própria vontade (ou da falta dela) - são, tão só, disfunções neurovegetativas.
Aqui (como salienta JLM) o campo é fértil … a neurociência o dirá!

“… a comida roubada à monja franciscana e ao goliardo, poderá constituir-se alimento daqueles que não conseguem produzir algo de próprio” (VAV).

Carlos Fiúza

P.S. Obrigado a ambos.

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