No dia 3 de Outubro, desloquei-me à Ordem dos Médicos (estando aí, em casa sua, o compositor clássico Rui Soares da Costa), para assistir ao recital encenado com o pianista Sébastien Dupuis e o actor Ivo Bastos no papel de Fryderick Chopin.
Foi muito bom. Vestindo a época, o texto de Castro Guedes (que não precisava criticar as vanguardas, para defender a sua opção pelo teatro de massas, «o mal menor»), de literatura clara, legível. Já o pianista, foi de grande técnica, e quase nenhuma emoção... Salvo as dinâmicas. Então, os scherzos, traduzo, as brincadeiras, não se perderam assim de seu carácter? Penso que não...
- Pois não são as novas interpretações nestes caminhos do (piano) romântico que continuam a leitura?
Muito feliz o paralelismo entre os dois corações: de D. Pedro IV, na igreja da Lapa, no Porto, de Chopin, na Igreja de Santa Cruz de Varsóvia, uma vez este ter terror de ser enterrado com vida. Sepultado na igreja de Père Lachaise, em Paris, em 17 de Outubro de 1849, sua irmã levou esse estranho tesouro mergulhado em cognac, numa pequena urna de cristal, até à sua pátria, onde o coração de Chopin descansa... em paz.
Vitorino Almeida Ventura
Post Scriptum: O organizador do evento foi Nuno Vidal, meu colega de ano e
curso na Universidade Católica. Sempre achei curioso o seu ar hierático, que agora cultiva mais e mais,
embora (espero que sem o incomodar) lhe direi ser pouco simpático o que aconteceu na Quinta da Macieirinha, em que pessoas com convite não puderam assistir. Parecia que uns convites valiam mais do que os outros. Acresce o facto de ser publicitada ENTRADA LIVRE. Uma autêntica negação do Porto... Bairro a Bairro. Penso eu de que, salvo melhor opinião.
2 comentários:
Coração Chopin – Curiosidades
Interessante este artigo de Vitorino Almeida Ventura, pelo “revisitar” Chopin.
Nada tendo a acrescentar ao descrito,o nome de Chopin trouxe-me à memória esta divagação.
Os apelidos estrangeiros devem, quanto possível, manter a pronúncia da língua a que pertencem.
No entanto, há apelidos muito célebres, os quais, apesar de assaz divulgados, nem por isso deixam de constituir verdadeiras complicações prosódicas.
Por exemplo, o nome de Chopin.
Há quem pretenda que o nome do grande compositor se leia à polaca.
Bastariam dois factos para justificar que ao nome de Chopin se não desse qualquer arremedo de pronúncia polaca: a origem francesa de Chopin e o ter sido a França a pátria da sua glória musical.
Mas ainda há outras razões para se pôr de lado a pretensão de ler à maneira polaca o nome do célebre músico nascido em Varsóvia.
Os próprios polacos cultos (e disso tenho conhecimento através de amigo pessoal) proferem o nome à francesa, e não estão com a presunção da pronúncia polaca.
Devo acrescentar que, transcrito em polaco, o nome de Chopin fica assim – Szopin.
O "Sz" inicial é proferido, aproximadamente, com "ch" minhoto, espanhol ou inglês, isto é, "tch".
Põe-se a sílaba tónica no "o" (quase fechado – tchô) e lê-se o "in" sem formar nasal, quer dizer, como fazem os ingleses, por exemplo, ao lerem "pin".
Repito que isto é uma transcrição polaca, pois os Polacos leem à francesa o nome do seu compositor.
Já que falei em pronúncia, devo chamar a atenção dos que pronunciam à francesa o nome de Chopin – "Chopan".
Ora, o "in" em impecável ortofonia(como deve ser a da rádio, por exemplo) profere-se em francês, não como "an", mas como "ém".
È mais como o "ém" de vintém do que como o "an" de antes.
Em simbologia fonética o "in" é representado por uma espécie de "e" com um til por cima.
E assim, quer nas rádios, quer nas televisões, o erro vai passando…
Ponham-se os ouvidos na BBC…
Como lá se cuidam destas coisas!...
Carlos Fiúza
O que são polacos cultos?
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