quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Daqui e dali... Henrique Raposo

José Sócrates, peça desculpa

Está em vigor uma espécie de relativismo socrático: diz-se, sem vergonha, que Sócrates e Passos são os culpados. Mas como é que se pode equiparar um homem que está no poder há 15 anos com um homem que chegou à oposição há 5 meses?


I.
A sensação repete-se: parece que a cultura política portuguesa se resume a um mero jogo politiqueiro, sem relação com os factos e números da Política. A cada semana, aparece um novo jogo tático, que nos afasta das questões centrais. Neste jogo semanal/mediático, o país perde um mínimo de profundidade temporal. As semanas repetem-se umas atrás das outras, como se fossem sucessivos "anos zero" que impossibilitam raciocínios com mais de umas semanas de profundidade. Nos últimas semanas, precisamente, criou-se esta estranha ideia: Sócrates e Passos são os culpados, em igual medida, pela situação do país. Li e ouvi várias pessoas com responsabilidade a dizer isto. Mas vamos lá a factos.

II. O PS está no poder há 15 anos. Ou melhor, nos últimos 15 anos, o PS governou 12 e meio (a "AD" Barroso/Portas governou 2.5). Parece-me evidente que o principal culpado por esta crise dá pelo nome de PS. É uma questão de facto. Até pelo seguinte: até 1999, Portugal cresceu. Hoje, quando olhamos para os números de crescimento dos anos 80 e 90, Portugal parecia um paraíso. Ora, nestes 15 anos de Era Socialista, Sócrates foi ministro e, agora, é primeiro-ministro desde 2005. Entre 2005 e 2010, este homem mentiu e enterrou Portugal várias vezes. Se existisse uma lista de culpados, Sócrates estaria no topo. Agora, pergunto: como é que se pode equiparar Sócrates a Passos?

III. Sócrates e Teixeira dos Santos, com objectivos puramente eleitoralistas, esconderam a real dimensão das contas públicas até Novembro do ano passado. Depois, entre Novembro e Maio, recusaram a realidade. Entre Maio e Setembro, semi-assumiram a realidade. A partir de 29 de Setembro, a realidade bateu-lhes à porta, trazendo um recado de Berlim: "acabou a brincadeira". Isto não é só incompetência. É irresponsabilidade (só assumiram a verdade quando Cavaco já não podia dissolver a assembleia) e vaidade (não queriam assumir que estavam errados). Entretanto, vamos descobrindo os milhões que temos para pagar em PPP que só beneficiam as empresas de construção do costume; vamos descobrindo que o PS criou, em 5 anos, mais "fundações" do que o conjunto de fundações criado em todo o século XX (havia uma música que dizia "boys, boys, boys"); vamos descobrindo o dinheiro que José Sócrates gasta na sua propaganda. Um dia, gostava de ver este indivíduo a pedir desculpa aos portugueses. Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

Evolução e Despersonalização

Disse Herculano:
“A Pátria… é a oração ensinada a balbuciar por nossa mãe, a língua em que pela primeira vez ela nos disse: - meu filho!” (Lendas, II, 195).

Meditando nesta afirmação de Herculano, eu pergunto: Ainda seremos Portugueses se amanhã todas as mães de Portugal passarem a imitar aquelas que já hoje dizem aos filhos: “Meu bijou!”?
E será Portugal ainda português, quando as noivas da nossa Terra, imitando as apaixonadas estrangeiras, disserem, todas: “My darling!”?

Lamento profundamente ver-me obrigado por um sentimento de amor à minha Pátria, a de vez em quando sermonear amargamente contra os meus irmãos portugueses, desrespeitadores, indiferentes ou descrentes da nossa Moral, da nossa Honra, da nossa Cultura, símbolos reais da nossa independência.

Mas poder-se-á deturpar o indeclinável dever de reagir em defesa da Honra, da Vergonha, da Verdade?

Na nossa Terra (tão propícia a descobridores) descobriu-se de há tempos a esta parte um estribilho muito acaciano com que se procura desculpar a estragação da Moral.
O estribilho canta assim: “A Moral é um organismo em evolução.”
Com tais palavras, tão genialmente descobertas, se pretende matar os poucos pregadores da Moral em expressão.
A libertinagem não se desculpa com o progredir dos aspetos sociais; pede uma reação enérgica de quem preza os direitos da cultura de um Povo.
Paralelamente, a ignorância ou a anarquia que pretenda justificar a despersonalização idiomática, mediante a distinguível lembrança da “evolução”, deve ser combatida pela verdadeira noção científica do processo natural, que nada tem que ver com a estragação descuidada.

Vítimas inocentes bebem nos jornais os vícios da expressão, e mal sabem que se lhes instilam os defeitos com a leitura desprevenida.
Indiferentes, algo culpados, parecem dispostos a abdicar dos direitos da nossa consciência.

Desorientadores opiniáticos recorrem ao estratagema de atribuir à “evolução” e à descabida frase-feita de que o povo “é quem elabora a língua” a explicação e a manutenção dos vícios destruidores.
Mas é muito superficial a opinião falsa dos que recorrem à “evolução” para legitimar a estragação atual.
Não reparam em que os tempos agora são outros.
Há contactos mais profundos entre os povos; a interpenetração das culturas apresenta-se bem pronunciada; as comunicações, mais velozes, quase neutralizam fronteiras; os ares trazem vozes estranhas, que os nossos recetores espalham pela intimidade do lar.

Nesta hora e nas outras que hão de vir as modificações, todas as modificações, não se efetuarão com aquele moderado andar de muitos e muitos séculos, se a intercomunicação dos idiomas se desenvolver com o predomínio de duas ou três línguas universais.