quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quando o impensável se torna inevitável

Desde o fim de Agosto que a pressão exercida sobre o PSD e o seu líder para que este aprovasse o Orçamento de Estado - que, recordemo-lo, só foi conhecido a 16 de Outubro, e incompleto - foi avassaladora. Essa pressão exprimiu-se muitas vezes através de argumentos pouco sérios e de métodos menos legítimos. Mas era impossível de ignorar. O surpreendente é que o PSD lhe tenha resistido com tanta firmeza, recusando pronunciar-se sobre um Orçamento que não conhecia.

Agora que o Orçamento é conhecido, começa a compreender-se quão ponderada foi essa posição. Senão vejamos: trata-se de um orçamento baseado numa previsão de crescimento totalmente irrealista ; um orçamento que se propõe reduzir o défice em quase 4% num único ano em pleno ambiente de recessão; e nem assim deixa de ser um orçamento com um inaceitável cariz despesista . Hoje, mesmo os que ainda põem velinhas pela aprovação do Orçamento já não ousam defender a tese de que ele deveria ter sido viabilizado de olhos fechados.


Eu não tenho qualquer dúvida que um Orçamento irrealizável como este que o Governo apresentou é um passaporte certo para a insolvência. Bastarão alguns meses até saírem os primeiros relatórios de execução - mal se souber que afinal a despesa não está a descer conforme se previa, e que a receita se está a portar pior do que se esperava, bum! fecha-se a torneira do crédito privado, e seremos obrigados a accionar o mecanismo de urgência europeu, FMI-style. E quando chegar este momento, repete-se a lenga-lenga: "agora que temos de pedir apoio externo não é momento de eleições", "seria irresponsável negar ao Governo o apoio às medidas exigidas pelos nossos credores europeus", "ou nós ou o caos".
Temos portanto um País encurralado pela estratégia de sobrevivência de quem nos governa. A menos que sejamos capazes de pensar para além do impensável e de vislumbrar o que já é inevitável. Começando por reconhecer este simples facto: Portugal já não pode evitar o recurso ao mecanismo de apoio europeu. Um OE2011 credível era o último recurso de que o País dispunha, mas também este foi desperdiçado por José Sócrates e Teixeira dos Santos. Ora se já não é possível evitá-lo, valerá a pena adiá-lo? A única razão para viabilizar um OE que todos, até Mário Soares, admitem ser mau, péssimo, terrível, seria que a alternativa fosse pior. Mas será? A opção parece ser entre livrarmo-nos de Sócrates agora, fazendo entrar o FMI, ou esperar uns meses e arriscarmo-nos a ver Sócrates usar o FMI como nova tábua de salvação política. Postas assim as coisas, a escolha torna-se fácil. Vasco Campilho, Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

Quinta-feira, Outubro 28, 2010
O grande manipulador deixou-se enganar?
A Cavaco Silva não basta ganhar as eleições presidenciais, para o recandidato o pleno será a eleições, a criação de condições para afastar José Sócrates e substituir Pedro Passos Coelho da liderança do PSD. O velho projecto e Sá Carneiro de o PSD ter a presidência e o governo deu lugar a um projecto de Cavaco Silva de deter ele próprio a presidência e o governo.

Passos Coelho percebeu que pode ganhar as eleições legislativas ou, pelo menos, tem mais hipóteses disso do que as que teve Manuela Ferreira Leite, a ex-candidata do PSD que Cavaco deixou cair em vésperas de eleições legislativas quando se apercebeu da derrota eminente do PSD nas legislativas e perante a indignação pública quando os portugueses perceberam que a invenção de escutas a Belém tinham partido de um braço direito de Cavaco Silva.

Passos Coelho sabe que Cavaco não gosta dele e o inverso também é verdade, Cavaco sabe que com Passos Coelho na liderança do PSD poderá ser inibido de dissolver o parlamento por receio de que das eleições legislativas resulte uma situação idêntica à actual, um governo sem maioria no parlamento. Cavaco precisa de livrar-se de Pedro Passos Coelho antes de enfrentar Sócrates.

O debate orçamental e a crise política que foi aberta coma intransigência de Pedro Passos Coelho deve-se muito às manobras de Cavaco Silva. Quando Cavaco “tranquilizou” o país dizendo que as negociações em torno do orçamento estavam no caminho desautorizou Pedro Passos Coelho que tinha endurecido o discurso na Festa do Pontal. Quando Marcelo Rebelo de Sousa informou o país de que Cavaco anunciaria a recandidatura no dia 26 de Outubro justificando a data com a certeza de que havia acordo, estava a puxar o tapete a Pedro Passos Coelho que se preparava para reunir o conselho nacional para tomar uma decisão em relação ao orçamento.

Às provocações de Cavaco Silva o líder do PSD respondeu com duas manobras, armou-se em negociador e envolveu Cavaco no processo negocial convidando um dos seus homens de mão e agendou o fim das negociações para o dia da apresentação da candidatura de Cavaco, tendo ficado evidente que entre a terça e a quarta-feira nada foi negociado, alguém pediu para que a notícia da rotura das negociações não fosse divulgada na terça-feira. Pedro Passos Coelho estragou a festa a Cavaco Silva, o Presidente da República pretendia apresentar o acordo orçamental como obra sua e acabou por ter como única prova da ajuda ao seu país os avisos que deu, como se fosse o apito do comboio o motor que faz andar a locomotiva.

O debate orçamental não é uma luta entre Sócrates e Pedro Passos Coelho, os líderes dos PS e do PSD até têm evitado ataques, é antes uma luta de vida ou de morte que Pedro Passos Coelho trava com Cavaco Silva. O líder do PSD tenta lembrar Cavaco Silva que no PSD “o presidente da junta é ele” e que não aceitar ser um líder descartável ao serviço do projecto de Cavaco Silva. O resultado da negociação orçamental foi só um, Passos Coelho disse a Cavaco Silva que quem decide o voto do PSD no debate orçamental é ele e que essa decisão é tomada em função dos objectivos políticos da sua equipa e não em função da agenda de Cavaco Silva.

Desta vez o grande manipulador parece ter-se enganado e Pedro Passos Coelho parece ter ganho vida ao ponto de ter enganado Cavaco Silva ao convidar Eduardo Catroga para negociar o OE em nome do PSD. Só restou a Cavaco reunir o Conselho de Estado, uma reunião que apenas servirá para debater cenários políticos que dependem da decisão de Pedro Passos Coelho.