quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Daqui e dali... Tiago Mesquita

Violar o burro. Sodomizar um país


Duas notícias ao mesmo tempo: 1ª - Um burro foi violado. 2ª - Novo aumento de impostos pelo Governo. Não deixei de notar um certo paralelismo.

As notícias não têm qualquer ligação. Apenas o facto de por mero acaso as ter visionado em simultâneo. Uma no ecrã do computador. Outra no ecrã da televisão. E notícias que à partida não teriam qualquer relação podiam ser caricatura perfeita uma da outra.
"Jaime ovelha" era um homem problemático. Acabou mal. No seu historial constam dezenas de episódios de violação de todo o tipo de animais. Furtava galinhas e praticava sexo tântrico com elas - 31 exemplares de um só proprietário. Aparentemente Jaime confundia o galinheiro alheio com o bordel local. Acabava as noites coberto de penas enquanto fumava um SG gigante e bebia um copo de branco. Pelo meio, e à falta de um qualquer ser vivo não humano para saciar a sua bizarria sexual, terá ainda violado uma idosa de 90 anos.
A excepção à regra porque o amor de "Jaime Pires do Ó" residia na sodomização de bicharada variada. A última de Jaime vítima terá sido um burro. E segundo o Correio da Manhã terá engendrado a coisa com artes de malvadez: "sodomizou o burro com um pau e tentou incendiá-lo".
Não contente com o sofrimento do bicho, e com o fogo que ardia dentro dele extinto (dentro de Jaime), ainda tentou pegar fogo ao pobre animal pois ter-se-á apercebido que se tratava afinal de um macho e não de uma burra (enganou-o com o olhar). Teve azar. O bicho está vivo e de boa saúde e Jaime acabou com o sobretudo de madeira vestido no cemitério local. Assassinado por desconhecido "com objecto metálico redondo, desferiram-lhe dois golpes fatais. Um no peito, outro junto ao ânus". Provou do próprio veneno.
Perguntar-me-ão o que raio tem isto a ver com o governo? Nada. Ou tudo. Depende da imaginação. O Governo não é o Jaime e o burro não é o povo. Ou o povo não é burro, se preferirem. Apesar de ser comum tratarem-no como tal. E se não aprecio ver um bicho, como qualquer ser vivo, ser violentado com um pau, menos prazer tenho em assistir a um país inteiro ser empalado com subidas generalizadas de impostos, tudo feito impunemente como quem pilha galinhas e faz amor com elas. E ter, ainda por cima, de continuar feliz e baixar as orelhas, como um jerico.
Jaime Ovelha sodomizou um burro e acabou morto. O Governo vai "sodomizando" um país inteiro com medidas de austeridade de toda a forma e feitio e está, aparente e inacreditavelmente, vivo. Jaime usou o pau e o fogo. O Governo usa o IVA, o IRS e outros. Não se sabe se o burro terá apreciado. Mas confesso estar um pouco saturado de ser tratado como um.
PS: 23% de IVA? Meus amigos: "vão roubar para a estrada". Expresso

2 comentários:

Anónimo disse...

Há muitos abusadores: O presidente do PS, por ex, doutor Almeida Santos, considerou que o esforço pedido pelo Executivo com novas medidas de austeridade “não são sacrifícios incomportáveis” e que “o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre”.
- Coitadinho dele e do Governo! Como é que eles vão sobreviver agora com tais medidas?

Amélia

Anónimo disse...

Realmente! Vejam lá o que eles sofrem! Um deputado do PS apelou para que a Assembleia da República abrisse a cantina à noite para ir lá jantar.

"Eu e muitos deputados da província quase não temos dinheiro para comer", disse Ricardo Gonçalves ao Correio da Manhã. Com um salário de 3700 euros mensais e ajudas de custo diárias de 60 euros, um deputado não é propriamente o mártir de São Bento e poderá tranquilamente ter uma vida mais digna e bem menos angustiante que boa parte dos portugueses. O desabafo do parlamentar socialista servirá para lembrar à população descrente na política que a austeridade toca a todos, deputados incluídos. Terá, porém, implícita outra leitura: a vida política abre oportunidades excepcionais para uma minoria e proporciona uma vida remediada a uma larga maioria. É, apesar disso, altamente competitiva face à generalidade das profissões. Cumpridos os deveres mínimos de lealdade e de solidariedade, é raro ver um político no desemprego. E mesmo quando esses deveres falham - veja-se o caso de Manuel Maria Carrilho - há vidas bem piores.
E o que será pior? Cinco entrevistas em três dias - Internacional Herald Tribune, Financial Times, Wall Street Journal, RTP e TVI - e José Sócrates conseguiu iludir a questão essencial: o que mudou desde 4 de Junho, quando o primeiro-ministro assegurou que estava a cumprir os objectivos orçamentais inscritos no PEC e que estava fora de questão qualquer aumento de impostos para 2010 e 2011? Em que triângulo das Bermudas entrou a economia portuguesa, pela mão do Governo, que justifique um tal descalabro das contas públicas? O que aconteceu? E o que será pior? O primeiro-ministro não saber ou não querer dizer?