Pedro Cordeiro, artista plástico com manual de prestidigitação
… crítica (construtiva, digo bem, porque nela se encara a sua fase prévia da denúncia e da destruição)…
Luiz Pacheco, in Figuras, Figurantes e Figurões
Há cerca de um mês, escrevia-me o Pedro Cordeiro (sim, o engenheiro mecânico, grande divulgador de música indie, na Rádio Ansiães, com o Jota, ó tempos voltem pa'' trás!, ambos liderando o projecto alternativo Humble Glue, na companhia de Hélder Filipe, Cachet e Milton Morais… — em torno do qual conheci também a Joaquim José Ribeiro e Rui Samões) a pedir-me que discreteasse sobre o seu novo projecto a beta movement. Ora,
tal achado verbal tem origem no entendimento da percepção pela escola da Gestalt ou Psicologia da Forma (Kohler, Koffka, Wertheimer), mais exactamente, neste caso se deve aos Estudos Experimentais na Visualização do Movimento de Max Wertheimer; Pedro Cordeiro explica no my space:
(…) ‹‹uma plateia fixa uma tela onde são apresentadas duas imagens em sucessão. A primeira imagem mostra uma bola no lado esquerdo do quadro e a outra a bola do lado direito. As duas imagens são exibidas em rápida sucessão. O apresentador pede que se explique o que se está vendo. Normalmente, o observador responderá que viu uma bola que se move da esquerda para a direita. De facto, o processo cognitivo da percepção cria a conexão entre as duas imagens que, parecendo uma única, provocam a ilusão de movimento.››
Matéria do 12º Ano da cadeira de Psicologia, a Psicologia da Forma
vem, ao princípio do XX° séc., pôr em causa o sistema educacional da época, baseado na lógica tradicional e no associacionismo de Wundt, centrado este em transportar os átomos da física para a consciência, no mínimo das sensações. O que o Gestaltismo põe em causa é precisamente essa lógica — no exemplo máximo de questionar se, ao vermos uma cadeira, é porque somámos anteriormente a visão das partes para obter o todo… Que não, que tal processo lidava com uma estrutura global, que não era reconhecida pela lógica. O que importa aqui, no entanto, procurar é o porquê de Pedro Cordeiro dar a seu projecto musical o nome desse Estudo Experimental que realça uma “óptica virtual” (nas palavras de Rui C. Martins, quando comigo verteu sobre, ao telefone), por um psicólogo que também compôs… algumas sinfonias! Mas não foram estas que o interessaram, mas uma sua-sobre-a-nossa percepção sobre o movimento. O que me parece,
sem escutar (d) sua música, é que Pedro Cordeiro nos remete em ponto prévio para uma linha de continuidade em haver-se a si próprio como _ _ artista... plástico. O fundo dos seus desenhos (já revelados na revista A Linguagem é um Vírus) na página web, os slides, o conteúdo visual dos exemplos que Pedro Cordeiro deixa no my space para a percepção de tal movimento ilusório… São evidências da sua condição:
(…) ‹‹O fenómeno beta também pode criar a ilusão de movimento para perto ou para longe do observador, em escalas diferentes no mesmo plano. Quando a primeira imagem é um objecto grande e a segunda um objecto pequeno, o observador normalmente responde que viu o objecto afastar-se (aproximar-se, caso o tamanho das imagens na sucessão seja invertido).››
Tal curta metragem exemplifica, de igual modo, o modo Humble, humilde — a tudo relativizar —, como Pedro Cordeiro vê o Mundo. Ilusão d'óptica, teríamos sempre que toda a sua-nossa perspectiva não nos dá um absoluto de Verdade. Mais do que isso: dentro de uma Sociedade de Espectáculo, como viu Guy Debord, ‹‹o verdadeiro é sempre um momento do falso››. E a sua-nossa perspectiva, tão editada, assaz manipulada pelos mass media…
Agora vem a auto-ironia… Não consegui ainda, por razões im_
pessoais de saúde e trabalho, aceder à Música (na minha Escola e na Biblioteca de Tavira, os filtros impedem a audição no my space e no you tube), mas como entendo que _ minha Opinião não é A, mas Uma, em cada qual sendo sustentada apenas por uma experiência, que todas _ _ audições dão, mas não uma autoridade, nem de secretariado como lança Luiz Pacheco, sarcasticamente: ‹‹Qual o meu papel por ali? Pois aquele que me indicou o Gaspar Simões: sacristão. E muito contente por assistir à missinha››… Assim sendo,
dentro de uma crítica construtiva, a qual começará por ser de denúncia e destruição, como Luiz Pacheco defende na epígrafe que escolhi, proponho uma obra colectiva, levantando do zero algumas questões (estas e outras) que desejo ver respondidas — por mim ou por outros, que de igual
mente queiram vir comentar aqui:
— Que movimento ilusório, na Música de a beta movement?
— Quais as contribuições de Secundini e Cachet?
— Será que Pedro Cordeiro se libertou finalmente da 'má' influência, sobretudo, vocal de Billy Corgan dos Smashing Pumpkins?
— E as soluções de composição: continuam aparentemente simples, como as de Humble Glue?
Vitorino Almeida Ventura
Post Scriptum: Pelo seu blogue no meu umbigo, podem encontrar o divulgador Pedro Cordeiro. Com uma linguagem cuidada (bem mais do que se lhe conhecia!), sobre alguns concertos que (o) marcaram. Incontornável, no seu Planalto, além, muito além de Carrazeda, com hiperligação obrigatória a silêncio é o barulho baixinho de Alexandre Quinteiro.