sexta-feira, 15 de abril de 2011

Daqui e dali... Carlos Fiúza

AS “tremuras” da Senhora Dona Terra

A Terra, ou seja, prosaicamente, este poleiro onde Deus nos colocou nos espaços siderais, foi, na imaginação mitológica, figurada por uma mulher, em cujas disposições físicas predominavam os seios, o que, diga-se de passagem, não estava mal pensado, porque as elevações semelham essas saliências femininas.

Ora, não consta da biografia terrena que ela fosse uma senhora nervosa, dada a tremuras, como resultado do desequilíbrio do seu metabolismo.

E não disseram os antigos que Dona Terra era nervosa, porque tal informação se tornaria ociosa, visto que toda a gente sabe que a Terra de tempos a tempos sofre tremuras. De vez em quando anda em crise, tremendo nervinamente, espasmando-se, convulsionando-se.

Tanto a Terra anda nervosa, cheia de tremuras, logo os jornais, as rádios e as televisões não deixam de nos fazer “tremer” os ouvidos com o disparate do “abalo sísmico”.

Não se desesperem os leitores nem os ouvintes. Aqui lhes aconselho o lado “humorístico” do caso. Sorriam, ponham-se mesmo a rir, porque o riso “lava a alma”.

Filosofemos sobre o assunto, a ver se se arregimentam adeptos sensatos que repilam a “abaladura sísmica”.

Como se sabe, uma das consequências da ação das forças interiores da terra é aquilo a que o nosso povo chama com admirável propriedade - tremor (e às vezes trumor) de terra.


Mas a linguagem apresenta gradações. E assim o que o povo diz na sua espontaneidade não serve muita vez ao uso experimental de certos setores da falação.

O nosso povo é um ás ou, se quiserem, um alho para aperfeiçoar o latim à sua loquela.

Se adrega de ouvir terremoto, emenda logo para terramoto, pois se é a terra que se mexe, terramoto eis o que lhe parece que deve ser.

Tem a linguagem portuguesa, sempre rica de valores, cinco maneiras de nomear os tiques nervosos da Senhora Dona Terra - tremor de terra, abalo de terra, abalo telúrico, terremoto e sismo.

Mas cinco formas não bastaram e em alguns “iluminados” surgiu uma estupenda calinada, obstinadamente repetida em letras e sons, em penas e bocas, em prelos e microfones - desânimo “abalador”!

E a calinada aí continua… (como certas pilhas: e dura… e dura… e dura).

Sendo a nossa língua realidade terrena, logo que a terra anda em crise de nervos, imediatamente a expressão noticiadora e registadora sofre em reflexo a “tremura abaladora” do desânimo.

Estimo as melhoras à Terra.

Aos jornais digo para tomarem “neurobióticos”… aos políticos (todos) que não dupliquem a sua dose diária de “Burrocitina”.

…Mas deixem o povo em paz! Deixem-no governar a sua vidinha… (se é que alguma coisa sobrou do “governanço”).

Carlos Fiúza

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