José Sócrates confessou a sua mágoa: "sinto-me sozinho a puxar pela confiança e pelas energias do País". Há dramas assim: há seres incompreendidos que acabam orgulhosamente sós. A tragédia de Sócrates é que não entende que o País está disposto a libertá-lo do seu cansaço. Quer que ele descanse, como mostram as sondagens. Mas, no fundo, o seu poder foi a solidão. Em vez de escutar os outros, Sócrates sempre preferiu ouvir-se a si próprio. Em vez do diálogo, preferiu as certezas absolutas. Rodeou-se de um corpo de pajens que o serviram com deliciosas curvaturas de espinha. É certo que a sua solidão foi a de um Rei Sol: ciente das suas certezas, tentou ao longo de anos que elas se transformassem no dogma do País. Fosse na economia, no sector financeiro, nas empresas de media ou na cultura. No fundo Sócrates ambicionava o absolutismo ou, pelo menos, uma versão pobre do bloco hegemónico de Gramsci. Ou seja, um poder que se confundisse com o Estado e onde tudo estivesse subordinado aos interesses de quem o detinha. Esteve perto de o conseguir, é verdade.
Sócrates está só porque esteve sempre mal acompanhado. Por companhias que escolheu. O "jogging" solitário que tem feito foi em nome do seu prazer. Não foi em prol do País. Com Sócrates, o País empobreceu. Não só economicamente mas, também, social e culturalmente. Sócrates sonegou as energias do País para as colocar ao seu serviço. A sua herança é um ovo oco. Sócrates está só e acabará só. No dia em que sair de S. Bento, ninguém verterá uma lágrima por ele. Fernando Sobral, JN
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