quarta-feira, 16 de março de 2011

Daqui e dali... João Lemos Esteves

Entrevista a Sócrates: nós é que não somos parvos!

1. José Sócrates está em plena pré-campanha eleitoral. Sente que o cenário de eleições legislativas antecipadas é, cada vez mais, uma inevitabilidade. Logo, colocou a sua máquina - eficaz, refira-se - de propaganda a funcionar: depois de responder a Marcelo Rebelo de Sousa na segunda-feira (em declaração ao país marcada para as 20h - hora de abertura dos telejornais), o nosso primeiro-ministro deu ontem uma entrevista à SIC. Em rigor, não foi o primeiro-ministro quem esteve ontem nos estúdios de Carnaxide: foi apenas o secretário-geral do PS, José Sócrates. O seu objetivo passa apenas por aguentar-se no poder o mais possível - e falar pouco da situação (real!) de Portugal. Dito isto, pergunta-se: como correu a entrevista? Há dois planos de análise: na forma e no conteúdo.

1.2. Na forma, eu qualifico a entrevista como positiva para José Sócrates. Apesar das contingências do Governo e do país, José Sócrates apareceu com ar dinâmico, não aparentou cansaço (e nisto a TV costuma ser letal), resposta breve, pronta e rápida. Se tivéssemos acabado de chegar a Portugal, até diríamos que o primeiro-ministro transmite confiança aos portugueses. A jornalista, Ana Lourenço, é encantadora, uma excelente profissional e uma reputada entrevistadora - embora pouco assertiva nas perguntas (por vezes), deixando espaço ao entrevistado para explanar longamente seus raciocínios (e discursos ensaiados). Neste sentido, José Sócrates sentiu-se como peixe na água: ele é um produto mediático, construído com muito marketing e uma máquina de propaganda eficaz. Reconheço que, na forma, foi de longe a melhor entrevista do primeiro-ministro desde há muito tempo.

1.3. Já no conteúdo é que surgem os problemas insanáveis para José Sócrates. É que o Governo chegou a um ponto em que o desnorte é total: não sabe que rumo seguir e nem sequer consegue justificar o seu trabalho, o que faz ou o que diz! O Governo - todos os dias - desacredita-se a ele próprio! O que ficou então da entrevista em termos substanciais? Duas confirmações, uma pseudo-novidade e uma piada de mau gosto.

1.3.1.Duas confirmações: as próximas semanas ficarão marcadas pela vitimização do PS. José Sócrates quer transmitir a ideia de que só a união nacional em torno das medidas de austeridade por si apresentadas, por encomenda de Angela Merkel, defendem o interesse nacional. Mais: ao afirmar que nem sequer pondera que o PSD não viabilize o novo PEC, José Sócrates atira a batata quente para Passos Coelho, apelidando-o de irresponsável e mesquinho por se enredar nos interesses meramente partidários. O primeiro-ministro fez ainda saber que não apresentará nenhum pacote de medidas em Bruxelas se não for o seu. Isto tem um nome: chantagem. José Sócrates está a fazer chantagem com o PSD e - muito mais grave! - com o país. Ou é o pacote de medidas que ele unilateralmente definiu; ou não é nada. Na escola primária, as nossas professoras diziam que chantagear era feio. Para o nosso primeiro-ministro, chantagear é a sua única forma de estar e fazer política, nem que tenha de prejudicar o interesse nacional.

Por outro lado, José Sócrates teve o descaramento de admitir que não ouviu os partidos da oposição, nem tinha de o fazer, pois a sua função não era ficar parado. Confirma-se que José Sócrates tem uma visão peculiar da democracia: quem não é por ele, é contra ele e contra o país. Ouvir os partidos - que amanhã poderão constituir governo e aplicar as medidas de austeridade com que se compromete internacionalmente Portugal - é uma maçada monumental... Com a agravante de José Sócrates liderar um Governo minoritário que sabia que teria de negociar - pelo menos - com o PSD. Isto não é ser lunático e irresponsável?

1.3.2.Uma pseudo-novidade: José Sócrates vai recandidatar-se. Percebe-se: ser primeiro-ministro foi um sonho concretizado para si. Agarrou-se de tal forma ao poder que só sairá forçado - ainda que arrisque uma derrota impiedosa. Não é novidade: José Sócrates acha-se o "primeiro-ministro Sol", que incorpora o interesse nacional e tem um direito divino a governar. Até ao dia em que os portugueses o vão desmentir...

1.3.3. Piada de mau gosto: então não é que José Sócrates - com ar blazé - diz compreender a Geração à Rasca? Lágrimas de crocodilo: o seu Governo agravou drasticamente as oportunidades da juventude portuguesa. No presente e no futuro. E foi o partido de José Sócrates que, na última década, mais ajudou a afundar Portugal. Continuamos no pântano...mas ninguém é responsável. Claro...
João Lemos Esteves, expresso

2 comentários:

Anónimo disse...

E se mandássemos à fava o José e o Pedro e começássemos a falar claro sobre os problemas nacionais.Não esquecendo de mandar à fava também o Francisco,o Paulo e o Jerónimo.

Anónimo disse...

Essa solução de mandar à fava é a mesma do conservador pseudo-comunista alegre. todos a trabalhar na ingricula. em nome do progresso.