quinta-feira, 17 de março de 2011

Daqui e dali... Daniel Oliveira

O labirinto de Sócrates, o mitómano

Que José Sócrates tem uma relação difícil com a verdade é coisa que todos sabemos. Mas a entrevista de terça-feira ultrapassou tudo o que poderíamos esperar.

Na versão de Sócrates, o que foi apresentado e elogiado pela Europa não são mais do que propostas. É falso. São propostas fechadas. Que não foi negociado com a Europa. É falso. É a moeda de troca para garantir que o FMI não virá e que será encontrada outra forma de auxílio externo. Que está apenas a tentar precaver uma situação difícil. É falso. A situação difícil já aí está. Que está aberto a propostas da oposição. É falso. Qualquer proposta de oposição que seja mais do que um mero adereço impedira esse acordo com a Europa e, muito em especial, com a senhora Merkel.

Na terça-feira, José Sócrates fez o que faz sempre, mas de forma ainda mais despudorada: simulou uma realidade que todos sabemos só existir nas suas palavras e construiu toda a sua argumentação com base nas suas próprias mentiras. É o que fazem os mitómanos. Só não sabemos se, como eles, Sócrates acredita nas suas próprias mentiras.

As mentiras de Sócrates não fazem aumentar o défice ou as taxas de juro. Não é por temos como primeiro-ministro um homem em que a coincidência dos factos com as suas palavras só acontece por mero acaso que estamos na situação económica em que estamos. Infelizmente, a realidade é bem mais complexa do que isso. E o PEC que Sócrates apresenta, ditado pela cegueira europeia, não resolverá coisa nenhuma.

Os danos causados pelas mentiras de Sócrates são outros, e também eles graves. Primeiro: todo o processo político é, com ele, um interminável quebra-cabeças. No labirinto de mentiras que ele próprio constrói tudo vai a dar a becos sem saída. E nesses becos, esbarramos sempre com a mesma chantagem: a da crise política. O segundo: de cada vez que o primeiro-ministro fala degrada a imagem das instituições democráticas. O contrato entre um eleito e os seus eleitores depende da credibilidade do eleito. Se nunca sabemos se o homem que nos governa nos está a dizer a verdade - se temos mesmo de partir sempre do princípio que nos está a mentir -, ele perde toda a autoridade moral para nos governar. E, sendo eleito, retira com as suas mentiras autoridade à democracia. E isso é relevante. Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

Essa é que é essa. PERDEU TODA A AUTORIDADE MORAL PARA NOS GOVERNAR.