Na nova fábula da política portuguesa a raposa não abdica das uvas porque estão verdes. Alguém lhe oferece uma escada para ela as deglutir. Esta raposa não distingue uvas verdes de maduras: não come por prazer. Come pelo poder.
Sócrates criou uma tribo que não distingue uvas verdes de maduras: só quer empanturrar-se. Talvez esteja agora em extinção.
Ou deveria estar. Sócrates transformou desconhecidos carreiristas políticos em gestores com barriga cheia. É esse o legado do Governo de Sócrates: nunca, como nestes anos, se tinha tornado o Estado uma prova de 110 metros sem barreiras para aqueles que seguem cegamente o chefe.
Antigamente, a política era lealdade, afeição, respeito, memória. Com Sócrates criou-se o princípio de que a lealdade canina é mais importante que a qualidade pessoal. O resultado vê-se.
O que se passou na PT, como se depreende das próprias palavras de Henrique Granadeiro, foi o arrombar das últimas portas da decência política. O que foi feito na PT já não é moral nem imoral: é simplesmente amoral. Esta gente não tem sentimentos. Quer apenas poder e os benefícios da sua gestão. Já não é a legalidade, ou não, das escutas que está em jogo. É o assalto à mão desarmada à PT, empresa onde a "golden share" do Estado serve para tornar o amiguismo a nova ideologia política. De Sócrates não sobra uma ideologia de direita ou de esquerda: resta um clube de devoradores. Ninguém duvida que, como Macbeth de Shakespeare, Sócrates lutará até ao fim. Mas a tragédia do País perdurará depois dele.
Fernando Sobral, Jornal de Negócios
1 comentário:
Tal como acontece na SIC com o nº 1 do PSD-Pinto Balsemão, idem no Expresso e Visão. Tal como acontece no Público com Belmiro de Azevedo. Tal como aconteceu no BPN com Oliveira e Costa e Dias Loureiro (PSD's), etc, etc..
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