Enfrentam temperaturas infernais para pôr em movimento a locomotiva a vapor. Mas ainda fazem corridas com os barcos, brincam com as pessoas e não trocam estes sábados por nada.
Sábado. Após uma semana de trabalho como inspector de tracção na estação de Contumil, Porto, Rui Rebelo Magalhães, 47 anos, deixou a família, mulher e dois filhos, em Aguas Santas na Maia e foi ao encontro de outro grande amor: a centenária Henschel. Ela tem 86 anos, é alemã, roliça e, apesar da idade, está bem conservada. A Henschel e Sohn SS71W Casel é uma poderosa locomotiva a funcionar a carvão e água, construída na Alemanha em 1925. Rui vai percorrer a Linha do Douro, entre a Régua e o Tua, todos os sábado até Outubro, aos comandos da fumegante locomotiva, com a ajuda de António Santos Ribeiro, 39 anos e Rui Teles Queirós, de 40. "Fomos nós que nos oferecemos para conduzir a máquina, fazemo-lo em regime de voluntariado pois amamos a nossa profissão e conduzir esta raridade é um desafio muito grande", afirmam os tripulantes da 0186.
Todos residem na área do Grande Porto e, por isso, "há que levantar bem cedo, tomar o comboio em S. Bento e rumar à Régua". Antes da partida, às 14.30, a vetusta locomotiva exige horas de preparação. Mimos que se repetem em cada paragem do percurso. "Apesar da satisfação que sentimos aos comandos da máquina a vapor, não se pense que é uma tarefa fácil, pois, antes de colocar o comboio em andamento, são necessárias cinco horas de cuidados intensivos à locomotiva: limpar, olear e polir", afirma o chefe de equipa.
Rui Magalhães sempre teve o fascínio pelos comboios: nasceu em Parambos, Carrazeda de Ansiães, a meia dúzia de quilómetros da Estação do Tua. Depois de concluído o curso secundário e de uma breve passagem pela Santa Casa da Misericórdia de Mirandela, candidatou-se ao lugar de maquinista na CP. "Os comboios foram sempre o meu sonho." Concluído o curso, foi colocado na Linha do Minho e posteriormente na so Douro, onde durante anos conduziu máquinas a diesel. "Foram quase vinte anos a conduzir as automotoras a diesel, mas a grande paixão era o vapor." Há quatro anos, e depois de ter sido promovido a inspector, Rui tirou um curso para poder dirigir as máquinas a vapor. "O curso foi ministrado por um dos últimos maquinistas do vapor , já retirado."
É quando se inicia a marcha do comboio que mais se trabalha. "Suportamos temperaturas de 30 a 70 graus, e o trabalho físico é constante, desde o abastecimento de água - mais de dez mil litros em cada viagem -até aos dois mil quilos de carvão de pedra que é preciso colocar à pá na fornalha", relata o maquinista. Ainda assim, é um trabalho compensador. "É gratificante responder através do silvo da locomotiva aos acenos constantes de centenas de pessoas ao longo do percurso e em certos locais medir forças com os barcos que sulcam o Douro e chegar à conclusão de que somos mais rápidos", conta. No percurso, e apesar da azáfama em torno da 0816 (como é tratada a locomotiva), ainda têm tempo para apreciar a paisagem.
"Era bom era que o percurso do comboio histórico se estendesse até à estação do Pocinho, ate onde ainda se circula na Linha do Douro. A 0186 não teria qualquer problema em fazer o percurso. Então é que os turistas poderiam apreciar o Douro em toda a sua plenitude", alvitra Rui Magalhães.
Antes de regressar a casa, os três homens têm de tomar banho, pois "a fuligem é às carradas, até parecemos africanos... Queimaduras também temos algumas, mas não doem e depressa se curam. O que não tem cura é a paixão pelas máquinas a vapor e por isso durante mais alguns sábados a família vai ficar sem a nossa companhia". Após o trabalho a bordo da 0186 , os três ferroviários despem os fatos-macaco e viajam até ao Porto, onde na segunda-feira envergarão de novo fato e gravata. DN
Sábado. Após uma semana de trabalho como inspector de tracção na estação de Contumil, Porto, Rui Rebelo Magalhães, 47 anos, deixou a família, mulher e dois filhos, em Aguas Santas na Maia e foi ao encontro de outro grande amor: a centenária Henschel. Ela tem 86 anos, é alemã, roliça e, apesar da idade, está bem conservada. A Henschel e Sohn SS71W Casel é uma poderosa locomotiva a funcionar a carvão e água, construída na Alemanha em 1925. Rui vai percorrer a Linha do Douro, entre a Régua e o Tua, todos os sábado até Outubro, aos comandos da fumegante locomotiva, com a ajuda de António Santos Ribeiro, 39 anos e Rui Teles Queirós, de 40. "Fomos nós que nos oferecemos para conduzir a máquina, fazemo-lo em regime de voluntariado pois amamos a nossa profissão e conduzir esta raridade é um desafio muito grande", afirmam os tripulantes da 0186.
Todos residem na área do Grande Porto e, por isso, "há que levantar bem cedo, tomar o comboio em S. Bento e rumar à Régua". Antes da partida, às 14.30, a vetusta locomotiva exige horas de preparação. Mimos que se repetem em cada paragem do percurso. "Apesar da satisfação que sentimos aos comandos da máquina a vapor, não se pense que é uma tarefa fácil, pois, antes de colocar o comboio em andamento, são necessárias cinco horas de cuidados intensivos à locomotiva: limpar, olear e polir", afirma o chefe de equipa.
Rui Magalhães sempre teve o fascínio pelos comboios: nasceu em Parambos, Carrazeda de Ansiães, a meia dúzia de quilómetros da Estação do Tua. Depois de concluído o curso secundário e de uma breve passagem pela Santa Casa da Misericórdia de Mirandela, candidatou-se ao lugar de maquinista na CP. "Os comboios foram sempre o meu sonho." Concluído o curso, foi colocado na Linha do Minho e posteriormente na so Douro, onde durante anos conduziu máquinas a diesel. "Foram quase vinte anos a conduzir as automotoras a diesel, mas a grande paixão era o vapor." Há quatro anos, e depois de ter sido promovido a inspector, Rui tirou um curso para poder dirigir as máquinas a vapor. "O curso foi ministrado por um dos últimos maquinistas do vapor , já retirado."
É quando se inicia a marcha do comboio que mais se trabalha. "Suportamos temperaturas de 30 a 70 graus, e o trabalho físico é constante, desde o abastecimento de água - mais de dez mil litros em cada viagem -até aos dois mil quilos de carvão de pedra que é preciso colocar à pá na fornalha", relata o maquinista. Ainda assim, é um trabalho compensador. "É gratificante responder através do silvo da locomotiva aos acenos constantes de centenas de pessoas ao longo do percurso e em certos locais medir forças com os barcos que sulcam o Douro e chegar à conclusão de que somos mais rápidos", conta. No percurso, e apesar da azáfama em torno da 0816 (como é tratada a locomotiva), ainda têm tempo para apreciar a paisagem.
"Era bom era que o percurso do comboio histórico se estendesse até à estação do Pocinho, ate onde ainda se circula na Linha do Douro. A 0186 não teria qualquer problema em fazer o percurso. Então é que os turistas poderiam apreciar o Douro em toda a sua plenitude", alvitra Rui Magalhães.
Antes de regressar a casa, os três homens têm de tomar banho, pois "a fuligem é às carradas, até parecemos africanos... Queimaduras também temos algumas, mas não doem e depressa se curam. O que não tem cura é a paixão pelas máquinas a vapor e por isso durante mais alguns sábados a família vai ficar sem a nossa companhia". Após o trabalho a bordo da 0186 , os três ferroviários despem os fatos-macaco e viajam até ao Porto, onde na segunda-feira envergarão de novo fato e gravata. DN
1 comentário:
Chama-se a isto ,amor ao trabalho que se faz,quem dera pudermos ter conhecimento de muitas hestórias como estas.
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