quarta-feira, 20 de julho de 2011

Daqui e dali... Fernando Sobral

A política do S. Pedro

Os britânicos doaram ao mundo a conversa de treta. Quando não querem falar de nada, falam do estado do tempo. Mas, no mundo da crise económica e financeira, é impossível construir um discurso político baseado nas previsões de chuva ou de sol. Os eleitores não querem falar do tempo.

Querem saber se terão, amanhã, dinheiro nos bolsos. É por isso que a classe política fala do passado para desculpar o presente e mostrar que tudo pode ser diferente no futuro. Quando Pedro Passos Coelho prometeu, na campanha eleitoral, que no Governo não iria falar dos dislates que herdaria de José Sócrates, estava a tentar tapar o sol com uma peneira. Em política é impossível não falar do passado. Essa era uma promessa que Passos Coelho nunca poderia cumprir. O "desvio colossal" não nasceu por obra da chuva enviada por São Pedro durante o Verão. Política é comparar, separar e mudar. De outra forma em vez de elegermos um primeiro-ministro nomeávamos o melhor manda-chuva para o cargo. Lula da Silva dizia que "falar mal só tem sentido se a gente falar pelas costas". Pela frente pode-se falar bem e mal. Dos outros, do passado e do presente. A única coisa que não faz sentido é quando um elefante se compara com uma galinha e diz que não o podem comparar com ela. Quem diz isso é uma galinha que está em pânico. Barack Obama está a candidatar-se a galinha desmiolada do ano, mas escusa de comparar o que é radicalmente diferente: os EUA, Portugal e a Grécia. Passos Coelho tem de se comparar com o passado para mostrar que é diferente. De outra forma estará apenas a falar da temperatura do ar. Negócios

1 comentário:

Anónimo disse...

A hipocrisia
Quando o anterior governo decidiu encerrar escolas medievais onde um professor leccionava em simultâneo a alunos de quatro anos de escolaridade diferentes o destemido Mário Nogueira protestou porque tal medida implicaria o despedimento de professores. Confrontado com a decisão do actual ministro avançar para o encerramento de mais de seiscentas escolas depois de ter suspendido s decisão durante duas semanas, o glorioso líder sindical dos professores aceitou a medida com a condição de que os alunos fossem para escolas melhores. Teremos de concluir que tais instalações não existiam e que o actual ministro lhe deu garantias de que seriam construídas durante o mês de Agosto.


Quando anterior Governo apostou nas energias renováveis multiplicaram-se os artigos de opinião a questionar os custos de tal aposta, a ideia mais defendida era a de que enquanto as renováveis fossem mais caras do que o recurso aos combustíveis fósseis estes deveriam ser a opção. Agora é o deputado europeu Paulo Rangel que lá de Estrasburgo alerta o país para a importância de apostar nas renováveis. Quem o ouve até é levado a pensar que a última vez que em Portugal se investiu nas renováveis foi aquando da construção da Barragem de Castelo de Bode.


O campeão destas cambalhotas foi Cavaco Silva que ainda há bem pouco tempo quase pedia ao portugueses que lambessem os sapatos dos responsáveis das agências de rating e agora é o líder europeu da luta contra estas agências. O mesmo que ignorou a crise internacional no discurso de posse, ao ponto do próprio Ramalho Eanes criticar tal omissão, dá agora lições de economia aos líderes europeus chegando ao ponto de ignorar as regras europeias em matéria de política monetária para propor uma desvalorização do euro, ele que enquanto ministro das Finanças decidiu uma revalorização do escudo que conduziu o país a um pedido de ajuda ao FMI.


A forma como esta gente interpreta o interesse nacional quase chega a enojar, revela hipocrisia e um total desprezo pela inteligência dos portugueses.
Publicada por Jumento