quarta-feira, 13 de julho de 2011

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

Manuel António Pina,
um tutankamoniano para o prémio Camões (# 3)

Como toda a gente, Manuel António Pina tem as suas folhas... mortas. Como Eduardo Lourenço, em Poesia e Metafísica, viu nos Lusíadas a Camões, para quem «o ismaelita é bárbaro, torpe, e os negros de África não usufruem do uso pleno da razão.»

Umas dessas folhas são mesmo em "Dito em voz alta", entrevistas registadas pelo professor de Filosofia Sousa Dias, da Esc. Soares dos Reis, um amigo do meu muito Ângelo César. E eu já o assinalara aqui, neste blogue, a sua desconsideração de uma rede social, entre os poetas e os textos poéticos da alta, quanto mais entre esta e a baixa cultura:

«(...) Também gosto de ler muito a Manuel António Pina, salvo quando também ele, por vezes, goste de exibir um lápis azul, ao dizer que no século XX, por ex., só há 4 poetas em Portugal: Sophia e Eugénio, e mais dois... Que, pensando em Pessoa, Sá-Carneiro, Cesariny, Herberto Hélder, Ruy Belo, Luiza Neto Jorge, Fiama, Ramos Rosa, Luis Miguel Nava, só assim de repente, significa que na sua própria História Literária do século XX o próprio Manuel António Pina não cabe, para muita pena minha, pois gosto de o ler poetica_

mente, mas também significa de certa forma querer silenciar e apagar a tantos outros, atitude semelhante à dos políticos tripeiros em questão, que chumbaram o nome de José Saramago para uma rua da Cidade. (Pior, pois que diabo, estes são políticos!).»
[Cfr. minha resposta a Hélder Rodrigues, em comentário de 18 de Julho de 2010 17:22].

Também das suas crónicas tão sarcastica_
mente lúcidas, por vezes, se solta um radicalismo - posso dizer? - sectário, a preto e branco, e, como na crítica ao bastonário da Ordem dos Advogados, e no após da contracrítica, se reservam ambos um papel triste, de mulheres, digo, de homens de soalheiro. Senão, vejamos:

Em 18 de Abril de 2011, no Jornal de Notícias, Manuel António Pina escrevia:


Dois casos de estudo


Tempos de calamidade como os presentes suscitam sempre o aparecimento de demagogos e oportunistas e de projectos salvíficos de todo o género.
Ainda o país digeria, estupefacto (ou, se calhar, não), o modo como, apenas com a expectativa de um penacho prometedor, foi fácil encher o vazio das ideias de "cidadania" e "participação" em torno de que Fernando Nobre fez a campanha à Presidência da República, já estava a pular para o palco o omnipresente bastonário dos advogados atirando-se, também ele, a políticos e partidos e propondo uma "greve" abstencionista às próximas eleições para os "envergonhar publicamente perante a Europa e o Mundo".
Marinho e Pinto merece a nossa compreensão, mesmo que esgote a nossa paciência. É um "junky" de protagonismo, quando está muito tempo longe dos holofotes entra em carência, afligem-no dores musculares insuportáveis no sistema vocal e as palavras acumulam-se-lhe, ansiosas, na garganta, sufocando-o e forçando-o a correr em desespero para as redacções em busca de um "dealer" de manchetes ou, ao menos, de títulos a duas colunas ou rodapés de noticiários televisivos para "meter para a veia".
É um caso diferente do de Fernando Nobre. O de Marinho e Pinto resolve-se, tudo o indica, com adequada terapia de substituição. O de Fernando Nobre é obviamente incurável, é um cancro terminal dos valores morais; mesmo o cargo de presidente da AR será só um paliativo.


A 24 de Abril, A. Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados respondia:

Um cretino é um cretino

Comecemos por onde estas coisas devem começar: o escriba que diariamente bolça sentenças nesta página e que dá pelo nome de Manuel António Pina é um refinado cretino. Posto isto, assim, que é a forma honesta de pôr este tipo de coisas, nada mais haveria a dizer. Citando um treinador de futebol dado a elucubrações epistemológicas, «um vintém é um vintém e um cretino é um cretino». E... Pronto! Estaria tudo dito. Além disso, só se MAP não fosse tão cretino é que valeria a pena mostrar-lhe por que é que ele é tão cretino.
Não costumo responder a cretinos. Mas, correndo o risco de este, como todos os outros, se tornar ainda mais agressivo, vou abrir uma excepção e descer ao seu terreno para lhe responder com as mesmas armas que ele tem usado contra mim, até porque este é um cretino especial, do tipo intelectual de esquerda.
MAP anda, desde 2005, a desferir-me ataques pessoais. O homem tem uma fixação doentia em mim. Incomodam-no muito as minhas posições públicas e sobretudo as denúncias que tenho feito sobre o nosso sistema judicial. Ele nunca se referiu com seriedade ao que eu digo. Prefere atacar-me como pessoa, imputando-me sempre os motivos mais mesquinhos ou os propósitos mais infames.
MAP tem a postura de um medíocre bem pensante, para quem é sempre mais cómodo atacar pessoas em vez de criticar ideias. As pessoas arrumam-se de uma penada, atingindo-as, à falsa fé, com dois ou três adjectivos. Isso dá a essa espécie de cretinos uma ilusória sensação de importância. Os medíocres só se sentem fortes quando humilham os que julgam mais fracos. Discutir ideias ou comentá-las com seriedade é sempre mais difícil porque exige qualidades que não abundam em MAP. Este é um megalómano em permanente ajuste de contas com a sua própria mediocridade intelectual.
Mas, ele é também intelectualmente desonesto, pois interpreta os factos sobre que escreve de modo que as pessoas concluam algo diferente do que eles realmente significam. A título de exemplo: ele já tentou convencer os leitores do JN de que a culpa pelas horas que as pessoas perdem inutilmente nos tribunais portugueses é dos advogados e não dos juízes.
Aliás, MAP nunca teve uma palavra sobre a actuação dos magistrados, a não ser para os elogiar ou então para execrar quem os critica. Ele deve ter algum sentimento compulsivo de gratidão para com eles ou alguma amizade reverencial (este tipo de pessoas age muito por amiguismos), pois adopta sempre uma postura canina em relação à justiça. A agressividade de mastim com que ataca os que criticam o funcionamento dos tribunais é apenas o corolário da sua obsequiosidade de caniche em relação às magistraturas.
MAP julga-se um ser superior. Com a displicência dos tudólogos diplomados ele fala de tudo e de todos, do que sabe e do que não sabe. As suas crónicas no JN, sempre naquele estilo alambicado típico dos ociosos, são a expressão aparolada de um imenso complexo de superioridade. Ele tem de julgar e condenar sumariamente alguém, pois senão sente-se diminuído perante si próprio e, sobretudo, perante o círculo de aduladores que lhe entumecem o ego.
Mas, se repararmos bem, lá nos secretos mais profundos do seu ser esconde-se um homem cruelmente dilacerado por indizíveis frustrações. É possível que na adolescência o tenham convencido de que seria um grande escritor, destino para o qual logo desenvolveu os tiques e poses apropriados. Mas, afinal, nunca passou de uma figura menor típica do universo queirosiano - um personagem que mistura o diletantismo de um João da Ega com os dotes literários de um Alencar d'Alenquer e o rancor mesquinho de um Dâmaso Salcede. Tudo isso, transposto para o jornalismo, resultou numa espécie de Palma Cavalão dos tempos actuais. Enfim, um homem que chegou a velho sem ter sido adulto e a quem os mais próximos, por rotina, caridade ou estupidez, provavelmente ainda tratam como uma grande esperança.
Esse género de frustrações conduz, no limite, ao desespero existencial. Em alguns casos, estes frustrados cometem actos tenebrosos. Porém, em MAP, as suas frustrações e complexos transformaram-no, num sniper que, emboscado nos telhados da sua senilidade rancorosa, dispara cobardemente contra tudo o que mexe, de preferência contra o carácter das vítimas que escolhe ao acaso.
Senhor Manuel António Pina, não se atormente mais. O seu mal cura-se com uma dose apropriada de iodo. Trate-se! Vá para uma boa praia e... Ioda-se!


NOTA: Na próxima crónica apresentarei as razões por que não irei votar em 5 de Junho. Isto se mais nenhum cretino se atravessar no meu caminho.

Após o que, Manuel António Pina, lhe treplica, assim:

Um camião sem travões


O bastonário Pinto saltou ontem as barreiras (todas, incluindo as do JN, onde, que me lembre, foi a primeira vez que, nos 40 anos que levo de casa, se deu guarida à castiça arte do insulto) e, de cabeça baixa, desembestou desenfreadamente contra o que aqui foi dito sobre a sua patética ânsia de protagonismo com argumentos como "cretino", "refinado cretino", "medíocre", "cretino" outra vez, outra , mais outra, ainda outra, "megalómano", de novo "cretino" (o vocabulário desta espécie de Capitão Haddock, ou Ad Hoc, é escasso), "desonesto", "ocioso", "parolo", "mesquinho", e depois, na secção zoológica, "canino", "mastim" e "caniche" e, na secção psicanalítica, "desesperado existencial" (o que quer que isso signifique), "frustrado" e "cruelmente dilacerado". A fina e bastonária argumentação termina a mandar que o cronista se "ioda". Escapou a honra da mãe do cronista, o que, vindo a coisa de quem vem, já foi assinalável proeza...
Tenho um princípio de sobrevivência na estrada que consiste em dar sempre prioridade a um camião destravado (ainda por cima, este vê-se bem que faltou a alguma inspecção). Meto, pois, travões e ele que passe.
É certo que, na sua fúria em contramão, o camionista atropelou repetidamente, provocando-lhe traumatismos vários, a pobre gramática da língua portuguesa. Mas gramática e ele que se entendam. Eu não me queixo. Podia ser pior, sei lá se o homem tem tomado a medicação.

11 comentários:

Anónimo disse...

Talvez as coisas mais belas já lidas sobre polidez de tratamento recíproco.
JLM

Anónimo disse...

O cardeal vermelho falou no prémio Camões por causa das Crónicas. Agora já estou a perceber. É um pouco parecido com algumas coisas que se publicam no blogue do vizinho. Como o considerar João José de Freitas um ilustre carrazedense! Se até a própria família o achava uma mancha.
Ass: Visconde da Felgueira

Anónimo disse...

Meu caro visconde,

penso que a opinião de um qualquer bispo vermelho será tão valiosa como a sua. No Desertificando, todos seremos poucos.

Não percebi essa do João José de Freitas. Em Carrazeda há uma rua com o seu nome, e falei um dia com o dr. Lobo que não percebia também porque se destacava um homem que foi um potencial assassino, só porque fora governador civil de Bragança. Mas o defeito será meu, que condenei sempre as pedradas que se atiravam aos comunistas, nas aldeias!

Ab.,

Vitorino Almeida Ventura

Anónimo disse...

Lol! Por isso é que depois da missa pelos sócios falecidos e em acção de graças, o bispo vai falar em Zedes, no dia 24, sobre o tema das pedradas: "Uma moura e uma pedra à cabeça". A anta de Zedes será pela primeira vez dissecada por um arqueólogo rural, especialista no período Neolítico da Pré-História. Assim se cavam as raízes.
Ass: Fada do Lar

Anónimo disse...

Não, não. Sobre «ruralidade» vai falar depois o meu ex-professor Hélder Rodrigues. E que rica e original a sua obra É! O professor Ventura bem o citou neste post. E não é possível divulgar neste espaço a sua oração de domingo?
Ass: Pão com Manteiga

Anónimo disse...

Já aqui deixaram o mote para um prémio literário, cujo nome não me lembro, mas quem melhor para o ganhar já se não o nosso nóbel HR...

Anónimo disse...

Citando o bastonário camoniano, soi dizer-se que se iodam os dois! Por que é que o povo tem de assistir a estes duelos de mata-mata, como dizia o Scolari?
GL

Anónimo disse...

O bispo vermelho que já foi laranja é especialista em atirar pedras...Agora no neolítico, não sei ...?? Talvez saiba mais sobre o paleolítico...
Ass. Flingstone

Anónimo disse...

Mas a melhor oração foi a do professor Mesquita. Embrulhem! Por alguma coisa era comuna laranja e o eleito de ex-presidente. A intervenção do professor Hélder é que foi uma seca. Como é rico acharam graça à pancada do figurão. Se fosse um pobre, diziam que era secante.
Ass: Lupovic

Anónimo disse...

Gostei sobretudo da forma baptismal 'Abrenuntio Satanae', na comunicação de José Mesquita, que saúdo.
CF

Anónimo disse...

O prémio lápis azul vai para o Manuel Pina, o prémio pópulista do Ano vai para o bastonário, o prémio Álvaro Sardinheiro para o prof. HR, e o da laranjinha amarga para o prof. Alegre.