quarta-feira, 13 de julho de 2011

Daqui e dali... Henrique Raposo

Os tiques do PS


Desde a sua fundação, o PS tem dois grandes tiques, dois ademanes de superioridade em relação aos restantes partidos, meros mortais, meros inquilinos do regime cujo senhorio mora no Largo do Rato. A saber: o PS julga que é a única força realmente legítima (entre a revolução e a reação) e julga que é o único partido genuinamente europeísta (entre Moscovo e Santa Comba). Mas, azar dos Távoras, o momento histórico que estamos a viver está a destruir esses ademanes socialistas. Para começar, o europeísmo do PS está pelas ruas da amargura. É evidente o mal-estar dos socialistas em relação à outrora sacrossanta UE . Neste momento, PSD e CDS são os partidos mais europeístas do pedaço. Em simultâneo com esta queda do europeísmo do PS, está a ocorrer uma mudança de fundo na esquerda portuguesa, que coloca em causa o papel charneira que o PS tem representado no nosso sistema partidário. Vejamos.

O PS julga que é especial, porque pensa que está cercado por forças ilegítimas da direita e da esquerda. No Congresso de Matosinhos, isso foi evidente. Os socialistas têm uma narrativa muito simples, mas muito eficaz na hora de arregimentar as forças internas: o PS, diz esta narrativa, está cercado pela extrema-esquerda revolucionária e pela direita fascizóide e/ou neoliberal . Este ambiente de cerco gera uma presunção de superioridade moral em relação aos outros partidos (e gera também o autismo do bunker de comando, mas isso já é outra conversa). Ora, como se sabe, esta situação resulta da fase inicial da nossa democracia. Entre 1974 e 1979, o PS foi mesmo o partido-charneira entre dois países que se odiavam (PCP versus direita). A partir dessa posição, o PS liderou o pacto que consumou a nossa democracia: do lado de fora ficou o autoritarismo anti-democrático do PCP e do lado de dentro ficou o chamado "arco governativo" liderado pelo PS (CDS, PSD e PS). Esta exclusão da esquerda do "arco governativo" - que dura até hoje - deu ao PS o lugar-charneira do regime e prendeu a direita ao PS. Porquê? Como o PS não podia governar através de uma coligação à esquerda, a direita lá tinha de fazer o frete de apoiar o PS sempre que era necessário (ex.: 2009-2011). Como é óbvio, isto contribuiu para a descaracterização da nossa direita e para a constante supremacia ideológica do PS. O medo da "rua" do PCP serviu sempre para o PS dizer que a direita não podia ser mesmo de direita; a direita só podia ser uma cópia a preto e branco do cintilante PS.

Ora, não é muito rebuscado pensar que as eleições de 5 de Junho e as consequentes movimentações no Bloco de Esquerda indicam o fim deste bloqueio à esquerda . E, sendo assim, uma coligação PS/BE num futuro próximo retirará a posição charneira ao PS, e normalizará a nossa democracia através da consumação de dois blocos claros e antagónicos (PS/BE, PSD/CDS). O tique vital do PS está a caminho do seu fim. Expresso

3 comentários:

Anónimo disse...

Bela tese,bem arquitectada,talvez pecando um pouco por delírio genial.
JLM

Anónimo disse...

já sabiam que a sede do PS vai passar do Largo do rato para uma tenda no deserto profundo da Líbia ??
Ass. Zé camelo

Anónimo disse...

Este Senhor Raposo deve ser especialmente delirante!
Que raio de salganhada aqui arma para dizer que abomina o PS e a esquerda?!
Se calhar tem idade para ter um mais, sei lá, de tino!