Tenho-me interrogado muito ao longo da vida sobre o que será a felicidade.
Como resposta a esta interrogação, sempre me acodem à lembrança factos simples a rondarem até a pura parvoíce.
Quando me recordo de momentos de sonolência como os que passava no barbeiro, a cortar o cabelo, ou como aqueles que passava com a cabeça deitada no regaço da minha mãe, a catar os piolhos, sempre entendo que eles eram momentos de felicidade, posso dizer, plena.
E então aqueles em que me sinto quase a adormecer, sinto-me tão bem que a isso chamo também felicidade.
A dormir, não tanto. Quando não sonho, durante o sono não existo.
Portanto, a sensação é nula, de nada. Quando acordo e o sono é reparador, então ao acordar, sinto-me novamente bem, feliz. Enquanto durmo, se o sonho é bom, agradável, sinto-me bem a sonhar: feliz.
Conclusão: A felicidade está ligada à sonolência ou aos sonhos bons, quando eles ocorrem. Também está ligada aos momentos que antecedem ou se seguem ao sono reparador sem sonhos.
Aplicando estes dados ao facto terminal da nossa vida, a morte, poderemos dizer que ,como ela leva ao sono eterno, os momentos que imediatamente a antecedem devem ser felizes, que momentos posteriores não existirão porque o sono é eterno e, durante ele, o sono, teremos momentos felizes se tivermos bons sonhos.
Bons sonhos, pois, para todos, na vida e na morte - é o que, do fundo do coração, vos desejo.
João Lopes de Matos.
5 comentários:
GRANDE HOMEM O SENHOR JOÃO LOPES MATOS.
PARABÉNS PELA SUA MANEIRA DE SER E ESTAR NA VIDA.
“SPIRITUS FLAT UBI VULT”
(a inspiração é um dom da natureza, não depende da vontade)
- “Eu amo o sopro do vento, como o rugido do mar...”
- “Porque o vento e o oceano são as duas únicas expressões sublimes do verbo de Deus…”
- “Depois é que surgiu o homem e a podridão, a árvore e o verme, a bonina e o emurcher…”
- “O vento e o mar viram nascer o género humano, crescer a selva, florescer a primavera...”
Assim se expressou Alexandre Herculano no seu genial “Eurico o Presbítero”.
Assim de expressa João Lopes de Matos neste “inspirado” e interessante artigo, a que deu um título “feliz”: Dormência e Felicidade.
Cada homem tem o seu estilo, e cada assunto, e cada ambiente, e cada época.
Mas em tudo a naturalidade se faz precisa.
JLM tem o seu estilo, o seu assunto, o seu ambiente, a sua época.
Mas tem, sobretudo, a sua NATURALIDADE.
As línguas vão-se modificando com o tempo, mas o que leva mais a alterar-se não é o artificial, porém, sim, o natural.
E JLM é natural… é ele mesmo:
- Um SENTIMENTALÃO!
Carlos Fiúza
Claro, é a sua naturalidade, como bem diz CF. Mas parece-me ver algo de mais preocupante nesta divagação sonial do nosso amigo septuagenário... e isso não conduz à felicidade (o que é?). Bons sonhos para JLM.
WM
Lembrei-me de um outro dia:
de quando estava a ler uma entrevista de Carlos Amaral Dias a João Sousa Monteiro, que, por vezes, (parece mesmo)vice-versa...;
de quando lia e pensava que é como no cinema (e das conversas que tenho tido sobre JLM sobre);
de nos sentarmos a ver o cinema numa poltrona, como de noite nos deitamos;
de, como no sonho, haver uma história com princípio, meio e fim, e personagens com que nos identificamos;
de como Lumiére descobriu o cinema numa noite de insónia, dizendo: «descobri que é como fazer sonhos»;
finalmente, de como a escuridão permite a inversão, de substiruir uma realidade por outra, que é a realidade interna.
Bom cinema!
VAV
(corrijo: e das conversas que tenho tido com JLM sobre);
Enviar um comentário