quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Daqui e dali... Daniel Oliveira

A morte e os impostos

Augusta esteve morta na sua cozinha durante oito anos. Uma vizinha bateu a todas as portas. Ninguém quis saber. Mas Augusta devia dinheiro ao fisco. E aí sim, deram pela sua falta.

Nos arredores de Lisboa, Augusta, que teria hoje 96 anos, morreu sem ninguém dar por nada. Nem família, nem amigos, nem serviços públicos. Uma vizinha, epenas ela, bateu a todas as portas que pôde, por estranhar a sua ausência. Da família, da GNR, de todos, apenas a indiferença. Nem a segurança social, nem os serviços de saúde. Ninguém. Era apenas uma velha num prédio de uns subúrbios. Passou oito anos a bater a portas. A burocracia impediu que alguém fizesse alguma coisa. A porta não podia ser arrombada. A GNR até gozou com a preocupação da vizinha. Coisas de velhos, terão pensado.

Mas Augusta, cidadã portuguesa, era também contribuinte. E aí deram por falta dela. Tinha uma dívida. Sem um único contato, a frieza da máquina leiloou o seu apartamento. Quando os novos donos chegaram, a porta foi finalmente arromada. E lá estava Augusta, morta no chão da cozinha. Tinha morrido há oito anos sem que ninguém tivesse dado ouvidos à vizinha.

O que impressiona, para além da solidão que permite que alguém morra sem que ninguém dê por nada, é que o mesmo Estado que dá pelo não pagamento de uma dívida ao fisco não dê, não queira dar, pelo desaparecimento de um ser humano. Que o contribuinte exista, mas o cidadão não. Que quem tinha a obrigação de pagar impostos tenha deixado de existir nos seus direitos. A metáfora é macabra. Mas é poderosa. Este Estado que não se esquece - não se deve esquecer - de nós quando é cobrador, mas para quem não existimos quando nos é devida alguma atenção.

Diz-se que só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Parece que para o Estado português só a segunda parte é verdadeira. gusta devia dinheiro ao fisco. E aí sim, deram pela sua falta. Expresso

6 comentários:

Anónimo disse...

Foi graças às Finanças que esta idosa foi encontrada, infelizmente morta e agora as Finanças é que têm a culpa ? Então e se não encontrassem ? Também seriam culpadas porque não encontraram... É dificil de compreender o pensamento de algumas pessoas. Se encontram, são culpadas. Se não encontram, são também culpadas. Como se depreende da legislação competiria ao Ministério Público e em última análise aos Tribunais dar a ordem de arrombamento da porta.Pergunto: - Porque é que estes não são culpados ? Dá para pensar !

Anónimo disse...

Lamentavelmente, o comentador anterior não viu nada para além do que está escrito...

Anónimo disse...

De facto quem governava nessa altura em Portugal, era Durão Barroso e depois Santana Lopes. Estranho, não ?

Anónimo disse...

A culpa da morte da senhora ainda há-se ser do Sócrates!!!
Senão, esperemos para ver.

Anónimo disse...

Continua a não compreender nada, pois não?...

Anónimo disse...

estes dois comentadores são engraçados. devem ser carreiristas. em vez de analisarem a situação por ela mesma, grave, preocupam-se em saber, um ao tempo em que ela começou, como se isso depois apagasse a culpa do seguinte. o outro ao contrário. quando souberem que o cronista é do be, então é que vai for!