terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Daqui e dali... Carlos Fiúza

A “auga” dos senhores deputados

Há vocábulos que têm mais sorte do que outros.
Um infeliz é por exemplo auga.
Auga tinha tanto direito a ser admitido na língua normal como os joelhos que mataram os antigos geolhos.

Água é dição mais difícil, isto é, menos fluida (já agora que se trata de fluido) do que auga. Esta custa menos a dizer, e, se não, façam o exercício glótico.
A coisa complica-se, empregando-se o articular: a água. Os dois a a formam hiato, como quem diz, abertura demasiado da boca: a água.
O Povo que não gosta de abrir a boca esforçadamente (obedecendo ao princípio psicofisiológico do menor esforço), resolve o caso e deixa correr a auga.
Metátese criticável?
Por enquanto, sim. Mas quem sabe se um dia a auga não virá a ser tão natural como os joelhos e a água tão esquisita como os antigos geolhos?!
Chi lo sa?

Faço advertir que a forma auga, tão vilipendiada, já estar vitoriosa em augar e ougar (que às vezes até se diz ògar).
Na verdade augar, ougar e até ògar mais não são do que resultantes da metátese de água. Portanto, a auga aqui está por cima, porque corre escondida numa forma derivada, cujo tema (auga) não vem à lembrança de quem fala naturalmente.

A metátese auga por água é, como se sabe, popular; porém, não só popular, é antiga na língua, e tal antiguidade e insistência de fenómeno fazem pensar que um dia virá a prevalecer auga a água.

- Dá mais um bocadinho de “bolo” ao deputado, que já está a augar. (Que é como quem diz: está-lhe a crescer água na boca).

Carlos Fiúza

12 comentários:

Anónimo disse...

Talvez os deputados precisem de auga verdadeira para molhar a garganta, para ver se se fartam de meter água por tudo e por nada.

mario carvalho disse...

http://diario.iol.pt/ambiente/agua-torneira-ambiente-nunes-correia-saude-tvi24/1092988-4070.html

É seguro beber água da torneira em Portugal»
Ministro diz que o país tem «um dos melhores» resultados em termos de qualidade da água

O ministro do Ambiente afirmou esta quinta-feira que é seguro beber água da torneira em qualquer parte do país, salientando que Portugal tem «um dos melhores» resultados em termos de qualidade da água.

«De um modo geral é seguro beber água em Portugal», afirmou Nunes Correia na sessão de divulgação do relatório anual da qualidade da água para consumo humano relativo a 2008, que revela um cumprimento dos parâmetros de 97,6 por cento.

No Dia Nacional da Água, o presidente do Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR), Melo Baptista, salientou, por sua vez, que um dos principais parâmetros que as entidades gestoras estão em falta nas análises é o relativo aos pesticidas.

Ressalvou, no entanto, que o actual sistema de controlo da qualidade da água impede que a ultrapassagem dos parâmetros possa provocar danos na saúde. «Em 24 horas tem de haver, e há, uma resposta», afirmou Melo Batista, explicando que as situações de ultrapassagem são «rapidamente» ultrapassadas.

O relatório do IRAR revela que a qualidade da água da torneira foi a melhor de sempre no ano passado, embora ainda com 2,4 por cento de incumprimentos.

O cumprimento dos valores paramétricos (exigido pela lei comunitária para substâncias como ferro ou cloro) foi, em 2008, de 97,6 por cento, denotando uma ligeira melhoria face ao ano anterior, quando o cumprimento foi de 97,4 por cento.

Tal como em 2007, também no ano passado os parâmetros com maior percentagem de incumprimento foram as bactérias coliformes, a Escherichia coli, os enterococos, o pH, o ferro, o manganês e o arsénio.


...................

mario carvalho disse...

uma estória interessante sobre a água da Assembleia da Republica


http://anossaterrinha.blogspot.com/2011/02/agua-da-torneira-no-parlamento-parte-ii.html
.......................

PS quer deputados a beber água da torneira


http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=456523


mas

/www.tribunamedicapress.pt/alimentacao/38806-parlamento-rejeita-agua-da-torneira-por-falta-de-higiene

PARLAMENTO REJEITA ÁGUA DA TORNEIRA POR FALTA DE HIGIENE


Sexta, 14 Janeiro 2011 10:50
O conselho de administração da Assembleia da República aprovou ontem um parecer negativo a um projecto do PS que queria adoptar o consumo de água da torneira e acabar com a água mineral engarrafada. Foram alegadas sobretudo razões de ordem prática que não garantiriam a "total higiene". Num projecto de deliberação do PS, assinado à cabeça pelo líder parlamentar, Francisco Assis, a bancada pretendia instituir o consumo de água da torneira na Assembleia da República com um argumento ambiental: a redução de resíduos. O parecer ontem aprovado - ao qual o Público teve acesso - alega que a água mineral (seja em garrafas ou máquinas de distribuição) tem garantida a sua total higiene. "Essa garantia não existe na utilização da água canalizada", segundo o parecer que foi proposto pela secretária-geral, Adelina Sá Carvalho. "Não temos meios para o garantir quer na origem, quer na distribuição", acrescentou. É que o fim da água mineral implica a sua substituição por jarros individuais, colocando questões de manutenção e da falta de pessoal para os encher e levar aos deputados

mario carvalho disse...

Portanto

para nós a auga da torneira é boa

para eles não tem higiene


eles têm de beber água de garrafão

agora percebo a diferença entre auga e água


como entendo a diferença entre deputado e cidadão


prazer em lê-lo Carlos Fiúza

Anónimo disse...

quem é o poeta?

Anónimo disse...

Já que fala em "exercício glótico", componha lá, se faz favor, a sua "dição", substituindo-a pela grafia correta: DICÇÃO! É que o novo acordo ortográfico não "corta" as consoantes que se pronunciam, como, de resto, Carlos Fiúza deve saber.

WM

Anónimo disse...

Mea culpa

Tem inteira razão WM quando me "puxa as orelhas" pela grafia de "dição".
Tive dúvidas quando a grafei mas, por puro comodismo, não consultei o Novo Acordo Ortográfico.
A sua chamada de atenção obrigou-me a entrar no Portal da LÍngua Portuguesa e a importar o conversor LINCE.
DICÇÃO mantem, como refere e bem, cç.
As minhas desculpas.

Carlos Fiúza

Anónimo disse...

Não precisava de apresentar desculpas; todos nós temos as nossas dúvidas; só quem nada sabe, é que nunca tem dúvidas e raramente se engana...
WM

Anónimo disse...

Teatro,caro Fiúza.Era mais uma das suas rasteiras,para ver se alguém estava atento.Para ver se alguém se queimava no seu tição,perdão,na sua dicção.

Anónimo disse...

Ao “anónimo” que o não é (penso)

Ao julgar conhecer-me (o que até certo ponto é verdade, se é quem eu penso que é), “julgou” ter “apanhado” no meu escrito um certo “teatralismo”.
Desta vez, errou redondamente.
Na verdade, o que foi escrito (dição) estava errado de base.
Embora (confesso) ser “propenso” às tais “rasteiras” de que fala, foi “erro” mesmo.
Não foi ficção, e muito menos “tição”… foi “burrice” pura e dura!
Se, efetivamente, é quem eu “penso” que é (e quase que o afirmo pela “ironia” da sua escrita),
… então o meu Caro Amigo está de parabéns.
Quem (a não ser um próximo) deduziria ter sido “dição” uma manifestação do meu “ego”?!
Ninguém!
Melhor dizendo: ninguém… sem um “cérebro tortuoso” como o seu.

Abraço,
Carlos Fiúza

mario carvalho disse...

não gosto muito de me meter no que não sei bem mas uma vez o C Fiúza incentivou-me

cito de um grande amigo :


Vejam alguns exemplos:
Em LatimEm FrancêsEm EspanholEm InglêsAté em Alemão, reparem:Velho Português (o que desleixámos)O novo Português (o importado do Brasil)
ActorActeurActorActorAkteurActorAtor
FactorFacteurFactorFactorFaktorFactorFator
Tactus TactTactoTactTaktTactoTato
ReactorRéacteurReactorReactorReaktorReactorReator
SectorSecteurSectorSectorSektorSectorSetor
ProtectorProtecteurProtectorProtectorProtektorProtectorProtetor
SelectionSeléctionSeleccionSelection SelecçãoSeleção
ExacteExactaExact ExactoExato
Except ExceptoExceto
BaptismusBaptême Baptism BaptismoBatismo
ExceptionExcepciónException ExcepçãoExceção
Optimus Optimum ÓptimoÓtimo



Se a origem está na Velha Europa, porque é temos que imitar os do outro lado do Atlântico.Mais um crime na Cultura Portuguesa e, desta vez, provocada pelos nossos intelectuais da Lingua de Camões.

Não sei se está certo ou errado este acordo....
Agora que eu concordo com o último
parágrafo .. isso garanto que concordo e não vai ser um brasileiro ou angolano qualquer que me vai, nesta altura do campeonato, convencer de que a minha professora de professora de português estava errada quando dizia que nossa língua provinha do latim e não do criolo(com a pressa de teclar já erro muito pontuação)

cumprimentos

mario

a colagem da cópia que é um quadro não fica muito bem.. mas é o que pode ser

Anónimo disse...

Meu Caro Mário Carvalho

Grato pelo seu comentário, nada inoportuno.

Na verdade,
...o passado anda quase sempre no presente da expressão, quer na nossa quer nas demais línguas.
Coisas novas, ideias novas, quase tudo que é novo traz em seu nome, ainda que seja por subtis relações, a marca do passado.

É só atentarmos…

Carlos Fiúza