Telmo Pereira ou
O eterno retorno
“Não vi ninguém nascer.
Só vi morrer.”
Rui Nunes, aquando da apresentação
do romance O grito, na Fundação Eugénio de Andrade.
Foi há mais de dez anos, mas ainda lembro o que Rui Nunes disse no Porto. E a cara de espanto de alguns dos presentes. Mas agora que fui ao Pombal (de Ansiães), as palavras daquele escritor ganham um contexto – posso dizer - mais dolorosamente próximo. Como se todas as suas vozes na 1ª pessoa me ensurdecessem... Preenchi o círculo da rua de Cá para a rua de Lá, e vice-versa: no que a paisagem me doeu, pela sua beleza de deserto em ruínas de monte e pedra. E os sons, como seixos arremessados. D
os pássaros, dos cães, das águas do ribeiro. Dei a volta à aldeia, e cheguei dobrado sobre mim, quase em posição fetal. Ninguém nasce,
e a Morte vai fazendo o seu trabalho. O meu tio Mário Almeida, agora o Telmo Pereira. E os livros, o prazer que nos dava falar sobre o que líamos. Telmo,
e o teu riso, sobre. No prazer com que contavas também o que escrevias, sob a legibilidade do cânone jornalístico. Mas, voltando aos livros... Por vezes, ok, tantas vezes como se tocado por _ _ _ fulminante inteligência. Tão rara, no tempo
e no espaço. E a tua mãe, uma pessoa tão bonita, e nem falo de seus contributos para o Património Imaterial do Douro – vol. 2, com o diabo às costas, e a fé, no des_
encanto do lobisomem. Falo do seu amor, tão acima dos teus excessos de álcool puro. Pura
candeia, vertendo a luz sobre ti. E sobre a Eduarda: não esqueço.
Vitorino Almeida Ventura
Post Scriptum: Os teus irmãos Nuno e Alzira cumprimentaram-me e eu não tive cabeça de lhes dizer sobre o prazer que tive. Na paisagem do deserto das pombas do Espírito Santo, vulgo, aldeia do Pombal, és mais um dos fantasmas com que eu faço o seu repovoamento. Aí, sempre me serás em eterno retorno. Também
me vai acontecendo o mesmo por Carrazeda. Depois do «capitão» Lobo, do «doutor» Morais, o «senhor» Joãozinho (Sampaio) está Além. Cada vez mais somos do Outro Lado...
O eterno retorno
“Não vi ninguém nascer.
Só vi morrer.”
Rui Nunes, aquando da apresentação
do romance O grito, na Fundação Eugénio de Andrade.
Foi há mais de dez anos, mas ainda lembro o que Rui Nunes disse no Porto. E a cara de espanto de alguns dos presentes. Mas agora que fui ao Pombal (de Ansiães), as palavras daquele escritor ganham um contexto – posso dizer - mais dolorosamente próximo. Como se todas as suas vozes na 1ª pessoa me ensurdecessem... Preenchi o círculo da rua de Cá para a rua de Lá, e vice-versa: no que a paisagem me doeu, pela sua beleza de deserto em ruínas de monte e pedra. E os sons, como seixos arremessados. D
os pássaros, dos cães, das águas do ribeiro. Dei a volta à aldeia, e cheguei dobrado sobre mim, quase em posição fetal. Ninguém nasce,
e a Morte vai fazendo o seu trabalho. O meu tio Mário Almeida, agora o Telmo Pereira. E os livros, o prazer que nos dava falar sobre o que líamos. Telmo,
e o teu riso, sobre. No prazer com que contavas também o que escrevias, sob a legibilidade do cânone jornalístico. Mas, voltando aos livros... Por vezes, ok, tantas vezes como se tocado por _ _ _ fulminante inteligência. Tão rara, no tempo
e no espaço. E a tua mãe, uma pessoa tão bonita, e nem falo de seus contributos para o Património Imaterial do Douro – vol. 2, com o diabo às costas, e a fé, no des_
encanto do lobisomem. Falo do seu amor, tão acima dos teus excessos de álcool puro. Pura
candeia, vertendo a luz sobre ti. E sobre a Eduarda: não esqueço.
Vitorino Almeida Ventura
Post Scriptum: Os teus irmãos Nuno e Alzira cumprimentaram-me e eu não tive cabeça de lhes dizer sobre o prazer que tive. Na paisagem do deserto das pombas do Espírito Santo, vulgo, aldeia do Pombal, és mais um dos fantasmas com que eu faço o seu repovoamento. Aí, sempre me serás em eterno retorno. Também
me vai acontecendo o mesmo por Carrazeda. Depois do «capitão» Lobo, do «doutor» Morais, o «senhor» Joãozinho (Sampaio) está Além. Cada vez mais somos do Outro Lado...
16 comentários:
O Telmo Jorge, como diz o senhor Paulo Carvalho, era muito melhor do que os melhores. Pati 80.
Deus Tenha em descanso a alma do eterno amigo Telmo.
Os amigos não morrem, simplesmente partem para outro espaço, na certeza que um dia nos voltaremos a encontrar.
Os sentidos pesamos a toda a família deste eterno amigo.
Abcdesporto/C. Fernandes
Os meus pêsames, igual.
AS
a propósito...
partiste triste!
há já algum tempo que contavas com o fim pre-anunciado!
desde aí disseste-me enfim, a vida levou a isto, embora o desgosto não mate, ajuda um pouco a interiorizar que, dado que assim foi, aceito a partida!
E a fé, Telmo ?
Disse-me então, a fé, pois... não resta muita, mas tenho-a para mim na certeza da ida para o além que desejo um pouco...
acho que aí descansarei bastante, sem farmácia por perto onde as minhas dores são também dores dum particular amigo (nunca me disse que amigo era),sabes,... daquela minha inaptidão, daqueles abandonos, incompreensões, mas que eu mereço e minha enorme mãe merece!
era o Telmo Jorge Lopes Pereira!
até lá!
Não sou fã do estilo incompreendido do Tino Ventura, mas encontro-lhe muita humanidade. No Pombal, falam claro, porém, vão deixá-lo com um pedido de desculpas pelo bom nome e honra. Fazes-nos tanta falta, Marinho! Tu saberias escolher uma coisa positiva, das muitas que o Telmo escreveu, para a despedida. NLP
TELMO FOREVER!
Caro NLP,
agradeço-lhe que lá no fundo, no fundo, descobrisse a minha humanidade. Não percebi a do pedido de desculpas pelo bom nome e honra. (O tema, confesso, nada me diz.) Agora,
concordo com a parte do Marinho, embora também tenha muita consideração pelo Tiago Baltazar, actual Director do jornal da ARCPA, que certamente também poderá destacar algumas das muitas «coisas positivas» que o Telmo deixou, desde o primeiro jornal, O Despertar.
Cumps.,
VAV
Tino:
A terra que nos vê nascer é aquela que mais tarde nos enterra. Mas o Pombal é diferente. Enterra-nos vivos e nem depois da morte sabe dignificar as memórias daqueles que com os seus defeitos, expuseram também publicamente, as suas virtudes para o bem comum.
O Telmo Pereira é apenas mais um exemplo.
Paz à sua alma.
Um amigo.
Ó Tino Ventura, o pedido de desculpa não se referia a ti. O Telmo merecia mais era do Pombal! NLP
Caro «NLP»,
eu percebi. Mas deixe lá o pedido de «desculpas pelo bom nome e honra»... Sabe a bolor. E
não faz altura de andarmos com o tambor e a bandeira da Guerra! Deixe orar quem quer rezar na missa de 7º dia, nem que seja por pecados próprios.
Ab.,
VAV
Caro «amigo»,
como eu sinto a sua dor! Mas, ao mesmo tempo, vejo no que o Pombal se tranformou: num lar de idosos com Alzheimer. Sendo assim,
resta-me compreender este fenómeno ligado ao envelhecimento... Você diz: - O Pombal enterra-nos vivos. Eu digo: - É verdade, mas não é um exclusivo do Pombal. E que sentido tem uma queixa sobre actos inimputáveis de mortos-vivos?
Ab.,
VAV
Sobre o TELMO muito haveria a dizer.Quem o conheceu na sua infãncia,adolescência e depois na idade adulta sabe que o TELMO era uma inteligência,mas a par da sua inteligência havia também um grande sentimento de revolta.Eu sei que havia.
Depois veio a doença do alcool e outras que ele nunca conseguiu vencer,como se isto não basta-se ainda tinha que lhe tocar mais a doença do cancro do pulmão originando a sua morte precoce.
Tive algumas conversas com ele e sabia a dor que lhe ia na alma,por isso,se por um lado é de lamentar a partida do TELMO, por outro lado devemos agradecer a DEUS tê-lo chamado para junto de SI terminando assim o seu sofrimento na sua passagem por esta vida.
É de enaltecer sua MÃE que nunca o menosprezou e teve asssim o gosto de ver o fim do seu pobre filho.
Para ELA deixo aqui um grande abraço,ao TELMO peço a DEUS PAZ PARA A SUA ALMA.
O Telmo era um incompreendido, como o Tino Ventura. Duas almas gémeas.
Queixas,
Ui!
... sem especificar, nem a personificação nem dos mortos vivos,pelo óbvio, a quantificação...é muita,
}}}}}
No fundo, no fundo, quem despreza e escamoteia o passado, «os antepassados» e sobretudo os SEUS VALORES, a estória, as raizes... enfim ... renuncia à verdadeira matriz de onde "arrebentou", não deixará rasto digno nem para as tertulias.
VALORES, amigo Tino, ou, a FALTA deles... como tu sabes,
Um amigo,
Quero deixar aqui os meus sentmentos à família, em especial, ao Nuninho. JP
Continuamos no tempo, sem tempo para meditar no bem que temos....
MBP
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