Inside Job,
um documento sobre a Crise pós-2000
Óscar de 2011 para o melhor documentário, Inside Job interpela sem o populismo de Michael Moore. Narrado por Matt Damon, sem mais recurso do que os factos e os depoimentos de uma série de economistas, jornalistas, políticos e analistas para explicar como tudo foi para chegar onde nos é,
permite apreender a real politik do sistema capitalista, na sua fase financeira. Tudo gira em torno de você, digo, da chamada desregulamentação, processo político que pretendia libertar a economia dos constrangimentos estaduais, em nome de Nosso Senhor, todo poderoso capitalismo selvagem. Liberdade para todas as mercadorias e sobre todas o dinheiro!, era a sua divisa, permitindo aos especuladores a invenção de múltiplas fórmulas capazes de multiplicar os seus rendimentos, incluive apostando contra os investimentos dos seus clientes, sabendo do grave risco que corriam, mas não os avisando.
Daí que foi como se passassem no meio do filme dois versos de Sophia:
Com fúria e raiva acuso o demagogo/E o seu capitalismo das palavras.
Com as finanças transformadas num verdadeiro Ma...caos, numa metáfora de casinos e prostituição, analistas e académicos das famosas escolas de administração, economia e finanças dos EUA tornaram-se consultores e assumiram cargos elevados no próprio governo.
A morte do socialismo que Vergílio Ferreira, entre outros, anunciou, como colocava entre a espada e a parede as políticas sociais... Defendia-se, ex novo, que a liberdade para o preso 001, capitalismo, seria a solução para um admirável mundo novo, espalhando desenvolvimento por toda a parte. O discurso foi convincente e até a maioria dos mais pobres o comprou, como um lugar no céu. Mas o que se não via é que o poder estatal não desaparecia: fora transferido para instituições como o FMI, o Banco Mundial e outras “governanças” globais que se tornaram mais fortes do que os Estados Nação.
Enquanto isso, poucos, muitos poucos desses grandes gulo$o$, educadíssimo$ criminoso$ de beija-mão financeiro acumulavam riqueza em todo este processo, sem que tenham sido punidos, sequer no heavy metal. Pelo contrário: o documentário mostra que muitos deles ocupam hoje cargos importantes na estrutura administrativa daquele país, indicados por Barack Obama. E nós,
cidadãos do mundo, vivemos sob isto que circula: No$$o $enhor. Algo já dito pelo historiador francês Fernand Braudel, para quem o capitalismo deveria ser dividido numa economia superior, onde se faz o capital, e uma economia inferior, onde praticamente as pessoas apenas trabalham e produzem para sobre_
viver. O impressionável é a quantidade daqueles que, nesse submundo, são submetidos a uma verdadeira lavagem cerebral, acreditando poder atingir a riqueza daqueles que controlam os meios pelos quais esse estatuto é conquistado. Talvez esta ganância obsessiva do tubarão e do peixe miúdo possa explicar melhor coisas mais complexas, como a corrupção, por ex. Talvez.
um documento sobre a Crise pós-2000
Óscar de 2011 para o melhor documentário, Inside Job interpela sem o populismo de Michael Moore. Narrado por Matt Damon, sem mais recurso do que os factos e os depoimentos de uma série de economistas, jornalistas, políticos e analistas para explicar como tudo foi para chegar onde nos é,
permite apreender a real politik do sistema capitalista, na sua fase financeira. Tudo gira em torno de você, digo, da chamada desregulamentação, processo político que pretendia libertar a economia dos constrangimentos estaduais, em nome de Nosso Senhor, todo poderoso capitalismo selvagem. Liberdade para todas as mercadorias e sobre todas o dinheiro!, era a sua divisa, permitindo aos especuladores a invenção de múltiplas fórmulas capazes de multiplicar os seus rendimentos, incluive apostando contra os investimentos dos seus clientes, sabendo do grave risco que corriam, mas não os avisando.
Daí que foi como se passassem no meio do filme dois versos de Sophia:
Com fúria e raiva acuso o demagogo/E o seu capitalismo das palavras.
Com as finanças transformadas num verdadeiro Ma...caos, numa metáfora de casinos e prostituição, analistas e académicos das famosas escolas de administração, economia e finanças dos EUA tornaram-se consultores e assumiram cargos elevados no próprio governo.
A morte do socialismo que Vergílio Ferreira, entre outros, anunciou, como colocava entre a espada e a parede as políticas sociais... Defendia-se, ex novo, que a liberdade para o preso 001, capitalismo, seria a solução para um admirável mundo novo, espalhando desenvolvimento por toda a parte. O discurso foi convincente e até a maioria dos mais pobres o comprou, como um lugar no céu. Mas o que se não via é que o poder estatal não desaparecia: fora transferido para instituições como o FMI, o Banco Mundial e outras “governanças” globais que se tornaram mais fortes do que os Estados Nação.
Enquanto isso, poucos, muitos poucos desses grandes gulo$o$, educadíssimo$ criminoso$ de beija-mão financeiro acumulavam riqueza em todo este processo, sem que tenham sido punidos, sequer no heavy metal. Pelo contrário: o documentário mostra que muitos deles ocupam hoje cargos importantes na estrutura administrativa daquele país, indicados por Barack Obama. E nós,
cidadãos do mundo, vivemos sob isto que circula: No$$o $enhor. Algo já dito pelo historiador francês Fernand Braudel, para quem o capitalismo deveria ser dividido numa economia superior, onde se faz o capital, e uma economia inferior, onde praticamente as pessoas apenas trabalham e produzem para sobre_
viver. O impressionável é a quantidade daqueles que, nesse submundo, são submetidos a uma verdadeira lavagem cerebral, acreditando poder atingir a riqueza daqueles que controlam os meios pelos quais esse estatuto é conquistado. Talvez esta ganância obsessiva do tubarão e do peixe miúdo possa explicar melhor coisas mais complexas, como a corrupção, por ex. Talvez.
5 comentários:
O cónego vermelho gostava de saber mais um bocadito, para pensar assim! Ainda há Rennies na Farmácia, não há?
E eu que julgava que VAV fosse um liberal!
Óptimo comentário, Vitorino Ventura.Felizmente ainda vai havendo gente lúcida, nesta era de vampiros.
Liberal é o doutor Matos.
Agradeço a todos os comentários. Até porque sou liberal...
Por isso, deixem-me citar C. Baudelaire, num dos prefácios às suas traduções de E. A. Poe: «na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão faltam dois direitos individuais fundamentais, o de me contradizer e o de me ir embora».
Como eu me revejo nisso!
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