quarta-feira, 3 de junho de 2009

Daqui e dali... Helena Matos

Nunca se deve dar poder a um tipo porreiro

O porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao país.

No início, ninguém dá nada por eles. Mas, pouco a pouco, vão conseguindo afirmar o seu espaço. Não se lhes conhece nada de significativo, mas começa a dizer-se deles que são porreiros. Geralmente estes tipos porreiros interessam-se por assuntos também eles porreiros e que dão notícias porreiras. Note-se que, na política, os tipos porreiros muito frequentemente não têm qualquer opinião sobre as matérias em causa mas porreiramente percebem o que está a dar e por aí vão com vista à consolidação da sua imagem como os mais porreiros entre os porreiros. Ser considerado porreiro é uma espécie de plebiscito de popularidade. Por isso não há coisa mais perigosa que um tipo porreiro com poder.
E Portugal tem o azar de ter neste momento como primeiro-ministro um tipo porreiro. Ou seja, alguém que não vê diferença institucional entre si mesmo e o cargo que ocupa. Alguém que não percebe que a defesa da sua honra não pode ser feita à custa do desprestígio das instituições do Estado e do próprio partido que lidera.

O PS é neste momento um partido cujas melhores cabeças tentam explicar ao povo português por palavras politicamente correctas e polidas o que Avelino Ferreira Torres assume com boçalidade: quem não é condenado está inocente e quem acusa conspira.

Nesta forma de estar não há diferença entre responsabilidade política e responsabilidade criminal. Logo, se os processos forem arquivados, o assunto é dado por encerrado. Isto é o porreirismo em todo o seu esplendor.
Acontece, porém, que o porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao país. Fomos porreiros e fizemos de conta que a sua licenciatura era tipo porreira, exames por fax, notas ao domingo. Enfim tudo "profes" porreiros.

A seguir, fomos ainda mais porreiros e rimos por existir gente com tão mau gosto para querer umas casas daquelas como se o que estivesse em causa fosse o padrão dos azulejos e não o funcionamento daquele esquema de licenciamento.

E depois fomos porreiríssimos quando pensámos que só um gajo nada porreiro é que estranha as movimentações profissionais de todos aqueles gajos porreiros que trataram do licenciamento do aterro sanitário da Cova da Beira e do Freeport.

E como ficámos com cara de genuínos porreiros quando percebemos que o procurador Lopes da Mota representava Portugal no Eurojust, uma agência europeia de cooperação judicial?

É preciso um procurador ter uma sorte porreira para acabar em tal instância após ter sido investigado pela PGR por ter fornecido informações a Fátima Felgueiras.

Pouco a pouco, o porreirismo tornou-se a nossa ideologia.

Só quem não é porreiro é que não vê que os tempos agora são assim: o primeiro-ministro faz pantomina a vender computadores numa cimeira ibero-americana? Porreiro. Teve graça não teve? Vendeu ou não vendeu?

Mais graça do que isso e mais porreiro ainda foi o processo de escolha da empresa que faz o computador Magalhães.

É tão porreiro que ninguém o percebeu mas a vantagem do porreirismo é que é um estado de espírito: és cá dos nossos, logo, és porreiro.

E foi assim que, de porreirismo em porreirismo, caímos neste atoleiro cheio de gajos porreiros. O primeiro-ministro faz comunicações ao país para dizer que é vítima de uma campanha negra não se percebe se organizada pelo ministério público, pela polícia inglesa e pela comunicação social cujos directores e patrões não são porreiros.

Os investigadores do ministério público dizem-se pressionados.

O procurador-geral da República, as procuradoras Cândida Almeida e Maria José Morgado falam com displicência como se só por falta de discernimento alguém pudesse pensar que a investigação não está no melhor dos mundos...

Toda esta gente é paga com o nosso dinheiro. Não lhes pedimos que façam muito. Nem sequer lhes pedimos que façam bem. Mas acho que temos o direito de lhes exigir que se portem com o mínimo de dignidade. Um titular de cargos políticos ou públicos pode ter cometido actos menos transparentes. Pode ser incompetente. Pode até ser ignorante e parcial. De tudo isto já tivemos.

Aquilo para que não estávamos preparados era para esta espécie de falta de escala. Como se esta gente não conseguisse perceber que o país é muito mais importante que o seu egozinho. Infelizmente para nós, os gajos porreiros nunca despegam.
Helena Matos, Jornalista

9 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante este "porreirismo" de Helena Matos, mas não sei porquê (porque será?) esquece-se do porreirismo de Oliveira Costa, Dias Loureiro no BPN. Esquece-se do porreirismo de Cavaco Silva ao nomear Dias Loureiro, para o Conselho de Estado. Esquece-se do porreirismo dos Administradores do BPP. Esquece-se do porreirismo dos anteriores Administradores do Millenium-BCP... etc. etc.

Anónimo disse...

Quem fala assim não é gago!Perfeito!

Anónimo disse...

Pois é:
vê-se que há neste País gajas porreiras.

Anónimo disse...

Que porreiro

Anónimo disse...

A verdade mexe com muita gente, até com o porreirismo do Banco de Portugal e dos seus responsáveis e de quem os nomeou.Fazem parte ao que parece, da mesma panela que é o Bloco Central, que se protegem. E os gajos do BPN que bricaram com os dinheirões de alguns portugueses o que serão á beira da comandita deste Governo que brinca com milhares de milhões dos contribuintes portugueses? O que será pior?

Anónimo disse...

De onde veio agora esta D. Helena?
Podia ter-se apresentado cá aos bloguistas de Carrazeda!
Pode juntar-se a Manuela M. Guedes,Mário Crespo e quejandos...

Anónimo disse...

Os tais do jornalismo de investigação que se direccionaram para as trapaças do Governo e a quem o Sócrates não perdoa.Dantes bastava uma coisada descoberta e o visado pedia logo a demissão.Agora querem é a demissão dos jornalistas.Que regime é este afinal? O do triunfo dos porcos?Sinceramente...

Anónimo disse...

É isso, pá, porreiro, pá. Esses quejandos como o ex-professor h.r. que já anda a espetar faquinhas nas costas do faustino (vejam o blog ao lado, onde se diz que ele é que devia ser candidato) e o ex-professor josé mesquita a quem apetece dizer «bardamerda» (também no blog ao lado). E são estes senhores educadores. Por não entrarem em nenhuma lista, perderam definitivamente a cabeça!!!
HP

Anónimo disse...

Ao que conheço dos visados no comentário de 6junho13:15, não me parece que precisem de entrar em listas...
É que sobre tudo, ganham bem!
No entanto eles que digam de sua justiça.
No entanto poderei opinar que o HP, conhecedor das pessoas em questão, só pode estar a defender uma "dama" cujas razões para tal se prendem com miopia política, ou mesmo sectarismo pessoal e político!