segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Daqui e dali... Alexandre Quinteiro

Os Joy Division (ou devo cingir-me ao postumamente mitificado Ian Curtis?) são o expoente máximo musical duma Manchester pós-industrial, soturna, fria e claustrofóbica, onde, no final da década de setenta, o principal estimulante era o haxixe, utilizavam-no para atravessar os espaços da cidade e aumentar aquela sensação especial de suspensão que caracterizava Unknown Pleasures (primeiro álbum). Como contraste, a banda era sóbria e tinha os pés bem assentes na terra.
Não quero que se confunda a música dos Joy Division com o fatalismo da nova onda pseudo-emo mas é inevitável rotular (palavra insípida, esta) as suas criações de «urbano-depressivas», mas isso não chega, nem mesmo quando lhe acrescentamos a designação de «pós-punk». Talvez apenas (?) pop/rock seja a designação mais indicada, mas continua a ser insuficiente, pois eles criaram à sua volta uma atmosfera única e irreplicável, das letras embebidas em poderosas emoções, como culpa, medo, raiva, claustrofobia ou nojo, à epilepsia de Curtis, que muitas vezes se confundia com os seus movimentos em palco. Sim, ele era um animal de palco. Só aí ele era excêntrico e abandonava a sua habitual postura de instrospecção, aquela a que ele nos habituou quando o "víamos" nas ruas dos subúrbios de Manchester, dentro da sua escura gabardina. Ainda não encontrei melhor descrição do comportamento de Ian que esta de John Savage: "Curtis vivia cada momento como se fosse o último, dando tudo de si. Nesta prática de envolvimento total, a sua epilepsia começou a tornar-se indistinguível da sua performance."
Ele já era um génio, embora muitos digam que foi moldado para exprimir todos os sentimentos mais profundos de Tony Wilson (co-fundador da mítica editora indie Factory, que lançou os Joy Division, aparentemente condenados ao fracasso), mas tornou-se um mito quando, na noite de 18 de Maio de 1980, aos 23 anos de idade, no número 77 da Barton Street, em Macclesfield, nos subúrbios de Manchester, após ter visto um filme de Werner Herzog e ter ouvido um disco de Iggy Pop, Ian Curtis colocou um ponto final à sua vida e à actividades dos Joy Division, a um casamento falhado com Deborah Curtis (do qual resultou uma filha), a um amor extraconjugal com uma jornalista/fã belga.

Alexandre Quinteiro in Silêncio é o Barulho Baixinho

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